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Você tem medo de falar em público? Eu também!

*Por Tatiana Pimenta, fundadora e CEO da Vittude   Sinto minhas mãos suando. Está frio, mas a sensação é de um calor infernal. Provavelmente, estou com a bochecha vermelha. O coração bate acelerado e a respiração é ofegante. Estou sentada na primeira fila, meus olhos fitam o cenário em que estarei de pé em poucos […]

Publicado em 13 de junho de 2019

*Por Tatiana Pimenta, fundadora e CEO da Vittude

 

Sinto minhas mãos suando. Está frio, mas a sensação é de um calor infernal. Provavelmente, estou com a bochecha vermelha. O coração bate acelerado e a respiração é ofegante. Estou sentada na primeira fila, meus olhos fitam o cenário em que estarei de pé em poucos instantes. Nada parece racional!

 

Meus pensamentos divagam e eu só me questiono: por que diabos você aceitou esse convite? Olho para frente: um palco redondo, imenso. Casa cheia, quase mil pessoas na plateia. Vejo holofotes, câmeras e todos os olhos voltados para o centro.

 

Tento respirar fundo e relembrar o que preciso falar. Passo o discurso na memória. Tento lembrar das palavras da Allison, coach que trabalhou comigo nos dias anteriores. Sinto um medo incontrolável, vontade de sair correndo dali. Olho o relógio, conto os minutos e sei que está chegando o momento de subir naquele bendito palco.

 

Penso: controle-se Tatiana! Respire fundo. Tento usar técnicas de Mindfulness. Inspiro, expiro, um esforço tremendo para prestar atenção somente na minha respiração. De repente, ouço meu nome. É agora!

 

Fecho os olhos por rápidos segundos e penso: lembre-se de respirar, manter o contato visual com a plateia e sorrir. Levanto e dou um “grito” interno: SORRIA! Subo no palco, as pernas tremendo, mas consigo fazer pausas e respirar enquanto falo. Minutos depois, quase anestesiada, sinto uma estranha euforia invadir meu corpo. Uma sensação de orgulho paira no ar: eu consegui.

 

O medo de falar em público
O relato acima parece ficção? Essa era eu, cerca de um mês atrás. Apesar de extrovertida e falante, fazer uma apresentação em público sempre foi um desafio. E esse não é um problema só meu, ele afeta milhares de pessoas ao redor do mundo.

 

No início de 2019 recebi um convite para compartilhar uma breve história. O tema? Hard Choice. Não seria nada muito longo, cerca de 90 segundos. O objetivo era falar sobre uma escolha difícil que precisei fazer ao longo da minha jornada enquanto empreendedora.

 

Quando recebi o convite, não hexitei em aceitar. Era uma excelente oportunidade de mostrar meu trabalho. Afinal de contas, um convite assim não se recusa. O evento? A cerimônia de encerramento de uma premiação mundial, focada no empreendedorismo feminino de impacto social. Havia um agravante, o discurso seria em inglês, mas vamos lá. Recuar, sem nem tentar não seria legal. Porém, quanto mais o evento se aproximava, mais o medo apertava.

 

Se você tem medo de uma apresentação, saiba que não está sozinho! Apesar de muito conhecimento sobre sua área de atuação, muitos executivos, líderes globais, artistas ou embaixadores bem sucedidos paralisam diante da necessidade de falar em público. No entanto, se eximir dessa tarefa nem sempre é uma alternativa existente. Por essa razão, decidi compartilhar um pouco do que já aprendi sobre o tema. Siga lendo e entenda quão natural é esse medo e como fazer para superá-lo.

 

Milhões de anos de evolução
Como seres humanos, somos condicionados a falhar em situações onde somos o “centro das atenções”. A culpa dessa falha é atribuída a uma estrutura do nosso sistema límbico chamada Amígdala. A função dessa área do nosso cérebro é assegurar a nossa sobrevivência.

 

A amígdala nunca dorme. Sua função é detectar o perigo e enviar sinais de alerta ao corpo, a qualquer momento em que a nossa vida esteja em risco. E, no momento em que subimos em um palco, por exemplo, nossa herança genética liga o radar de PERIGO.

 

Nosso cérebro mamífero foi moldado durante milhões de anos. E o que significa, para um mamífero, notar centenas de olhos virados para sua direção? Tcharam: serei o almoço da galera, risos.

 

Especializada na sobrevivência humana, a amígdala imediatamente toma o controle do nosso cérebro e entra em ação. As glândulas adrenais começam a jorrar adrenalina na corrente sanguínea. Passamos a respirar mais rapidamente, oxigenando o sangue. O batimento cardíaco acelera, preparando nosso organismo para a batalha. Começamos a suar, sabe por que? Para ficarmos mais escorregadios e difíceis de ser agarrados. Nossa visão fica mais focada, de modo a decidir entre luta e fuga.

 

Nosso fluxo sanguíneo é então redirecionado para os grupos musculares maiores (pernas e braços). Todas as funções consideradas “não críticas” para continuarmos vivos são desaceleradas. O sangue é literalmente roubado dos órgãos desnecessários neste momento, para aqueles que irão assegurar a nossa permanência por aqui. Ou seja, vamos precisar correr para não virar alimento daqueles famintos olhos que nos miram!

 

Sabe o que é interessante? Um dos “órgãos não essenciais” que sofre com o roubo de sangue é justamente o córtex pré-frontal, local onde nossa linguagem é processada. Óbvio né? Não precisamos falar, só temos que correr.

 

Logo, diante de tanta atenção, todo conteúdo que preparamos para uma reunião ou apresentação importante simplesmente adormece. Por isso surgem os famosos “brancos”. Nos sentimos estúpidos, uma vez que mesmo sendo inteligentes e talentosos, muitas vezes travamos quando precisamos falar em público.

 

O que diz a neurociência
Ser inteligente, bem-sucedido, bonito ou talentoso não protege ninguém de falhar diante de um processo conhecido como sequestro da amígdala.

 

Ter um QI acima da média não faz ninguém ser um bom comunicador. E, na maioria das pessoas, a habilidade de pensar é muito superior à de falar e se expressar bem. Um CEO de uma organização pode ser brilhante no exercício do seu cargo e falhar em uma apresentação para o board, por exemplo.

 

A boa notícia é que algumas habilidades podem ser desenvolvidas. Existem técnicas e profissionais experientes capazes de ajudar a transformar você em um bom comunicador. O que descrevi no início desse artigo parece, literalmente, um pesadelo. No entanto, a situação já foi muito pior.

 

É possível aprender a falar em público
Ao longo dos últimos 3 anos trabalhei temas como medo, autoconfiança e autoestima nas minhas sessões de terapia. Também tive a ajuda de profissionais como a fonoaudióloga e consultora em comunicação, Mariana Godinho. Mais recentemente, tive a grata alegria de contar com o trabalho da Allison, do Rob e da Carrie, da Stand & Deliver, consultoria especializada na preparação de CEOs, executivos e líderes políticos. Um dos trabalhos da Stand & Deliver é fazer com que seus clientes consigam comunicar suas ideias com alto nível de autoridade, impactando e inspirando pessoas ao seu redor.

 

Aprendi que uma boa apresentação contém 3 elementos: conteúdo, entrega e estado mental. Sobre conteúdo, entendam todo conhecimento técnico e preparação de material, slides, decks bem preparados, design, etc. Entrega está relacionada à percepção de postura, tom de voz, aquecimento de cordas vocais, entonação, contato visual e linguagem corporal. E, por último e mais importante, o seu estado emocional. Ou seja: como você treina o seu cérebro para aquela situação. Se a sua mente não estiver bem e consciente, sua amígdala vai tomar conta e você vai travar.

 

Vale entender que autoconfiança surge quando nos desafiamos a fazer coisas difíceis. Quando superamos as adversidades. A resiliência, presente em muitos empreendedores, é fruto do acúmulo de fracassos e sucessos, pequenos ou grandes. O que eu quis dizer com isso? No processo de aprender a se comunicar melhor, haverão falhas e você vai aprender com elas, por mais ridículas que elas possam parecer.

 

Somente somos capazes de superar o medo, desafiando nosso ego e arriscando fazer aquilo que tememos mais. É a única forma de demonstrar a si mesmo a sua capacidade de superação. Portanto, se bater aquele medo, vai com medo mesmo.

 

Uma oportunidade de encantar
Pense no seu discurso como uma oportunidade de dar um presente a alguém. Tenha em mente que a sua fala tem o poder de impactar um outro ser humano. Se você está ali, naquele palco, é pelo seu mérito e conhecimento. Você, muito provavelmente, foi convidado a compartilhar um insight, uma experiência ou um aprendizado. Ninguém conhece mais daquele assunto que você, em especial se tiver falando da sua experiência de vida ou da sua empresa. Ao falar com a consciência e intenção de causar encantar, a sua apresentação se transformará em uma oportunidade única de inspirar e liderar. Pense nisso, e encare seus “fantasmas” de frente.

 

Quando enfrentamos nossos medos, nos tornamos vitoriosos!

 

*Tatiana Pimenta é CEO e fundadora da Vittude, plataforma que conecta psicólogos e pacientes. Faz psicoterapia pessoal há 6 anos e é apaixonada por psicologia e comportamento humano. Foi finalista do Cartier Women’s Initiative Awards, premiação internacional de projetos empresariais encabeçados por mulheres.