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RME pelo Brasil: O poder de viver em Rede

Em especial para o mês do empreendedorismo feminino, Jaci Aragão abre série onde voluntárias da RME contam suas experiências

Publicado em 2 de novembro de 2022

30 de junho de 2021, este foi o dia em que recebi o e-mail intitulado “Resultado Processo Seletivo Multiplicadoras IRME”. Faltando pouco mais de dois meses para completar 40 anos e estando formalmente no mercado de trabalho desde os 14, ou seja, tendo vivenciado muitos processos seletivos, confesso que estava ansiosa, como não fiquei em outros processos. Eu tinha até colocado a data na agenda, para lembrar de verificar o e-mail, mesmo assim vivenciei aquele hiato entre constatar o recebimento e realmente abrir, que só a expectativa pode causar. Finalmente abri e as primeiras linhas foram

Com muita alegria queremos te parabenizar, pois você passou no processo seletivo de multiplicadora do Programa Ela Pode. A sua colaboração para impactar a vida de muitas mulheres será fundamental“.

Passado pouco mais de um ano desse dia, posso assegurar que esse impacto é real. Eu já havia participado de uma oficina presencial do Programa Ela Pode, em 2019, por este motivo, e por outras experiências que vivenciei tanto na forma de voluntariado, como por meio da instituição de ensino em que eu atuava como docente e que tinha um programa social focado em formação profissional, inclusive em comunidades periféricas, eu sabia  que efetivamente as mulheres participantes do programa seriam impactadas, mas acho que não dimensionei o quanto eu mesma me modificaria nesse processo.

Este texto é para falar um pouco da minha experiência como voluntária no Instituto e na Rede Mulher Empreendedora, mas antes de falar de mim, preciso falar da minha mãe, mais conhecida como “Dona Lidia”, pois é nela que tudo começa. Sem ter tido acesso aos estudos e tendo seu casamento afetado pelo alcoolismo, após muita luta percebeu que a separação era o melhor caminho para a garantia de uma vida saudável para mim e minha irmã, que na época estávamos com 4 e 8 anos, respectivamente. Minha mãe foi tapeceira, vendeu bolo, abriu uma bomboniere, vendeu produtos por catálogo… EMPREENDEU. E foi empreendendo, somado a outros trabalhos, que nos criou, sempre nos incentivando e não poupando esforços para que estudássemos, e hoje explode de alegria a cada diploma e certificado que conquistamos.

Outro referencial que tenho dela é que sempre esteve envolvida em ações sociais e no suporte aos familiares, amigos e comunidade. O resultado disso é que também comecei a empreender desde cedo, tive até uma locadora de DVD em sociedade com minha irmã, e desde sempre o voluntariado fez parte da minha vida. De atividades operacionais como limpar, servir, cuidar, palhaça de hospital, professora de informática, decoradora de festa e agora multiplicadora e mentora do Instituto e Rede Mulher Empreendedora.

Dizem que o fruto nunca cai longe do pé. Como Psicóloga, digo que aprendemos por modelação, e as pesquisas com os neurônios espelho só confirmam o quanto aprendemos com o outro, por isso precisei fazer essa retrospectiva. Mas acredito que ela tenha ilustrado também a importância que estar na Rede tem para mim, pois sei por vivência a importância do empreendedorismo feminino. E falando em aprendizado, retomo minha experiência de ser selecionada como multiplicadora, em plena pandemia, onde as oficinas eram exclusivamente remotas. 

Confesso que isso foi um presente e tanto, pois, em meu período de treinamento, pude acompanhar e aprender com multiplicadoras de diversos estados, com oficinas para inscritas diversas, mas também para grupos específicos de mulheres em comunidades e até mesmo no sistema prisional. Sinceramente não tenho como descrever o quanto fiquei impactada.

Em setembro de 2021 dei minha primeira oficina remota e desde então quanta coisa aconteceu. É incrível ver a troca entre mulheres tão diversas, seja pelo ramo de atuação, condição financeira, acadêmica, localização geográfica e tantos outros fatores. Trazemos conteúdos de liderança, negociação, finanças, autoconhecimento, gestão do tempo… E elas compartilham de si, suas vidas, seus negócios, seus sonhos. Saímos todas fortalecidas, com novas estratégias e perspectivas. Ainda em 2021, tive a oportunidade de atuar nas mentorias coletivas. Entre oficinas e encontros com a rede de voluntárias, o ano passou voando e no último encontro do ano, onde celebrávamos os resultados e compartilhávamos as alegrias por tantas mulheres impactadas, tive a grata surpresa de figurar entre os destaques do ano, como a multiplicadora da nova leva que mais impactou mulheres em 2021. 

Em 2022 pudemos finalmente dar as oficinas de forma presencial e quanta potência compartilhada! Os encontros presenciais oportunizam ainda mais as conexões, parcerias, projetos, trocas, tanto para as empreendedoras, como para as mulheres que estão no mercado formal. Este ano tive ainda o privilégio de mentorar duas das dez finalistas do programa Elas Prosperam, voltado para afroempreendedoras. Este é um dos programas com capital semente, mas foi tão potente ver o crescimento de todas e o discurso uníssono de que, apesar da importância do prêmio em dinheiro, a oportunidade de crescimento e estruturação de seus negócios já tinham valido e muito a pena. Sou de Pernambuco, estou em São Paulo e uma empreendedora que tive o privilégio de mentorar, e que ganhou o capital semente, é do Rio Grande do Sul. Da destinação do prêmio ela direcionou uma parte para um projeto com alunos de EJA e tem sido incrível acompanhar o desdobramento, mesmo após a conclusão do programa. 

Lembra dos neurônios espelho, que falei acima? Pois é, esse conjunto neural funciona como uma ressonância, que nos possibilita compreender e assimilar a ação e experiência do outro. Por este motivo, estar em rede é tão potente. Quando mulheres se juntam, percebem novas possibilidade de enxergar as oportunidades, se fortalecem e crescem! 

Espero que esse texto inspire outras mulheres a somar à Rede como voluntárias, pois sempre temos algo para compartilhar e que desperte empreendedoras que já ouviram falar e até seguem os perfis sociais da Rede e do Instituto, mas nunca pararam para entender este trabalho, a se somar a tantas outras que já perceberam a diferença que faz não caminhar sozinha.

ARTIGO ESCRITO POR

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Psicóloga Clínica, idealizadoras e coordenadora do projeto Psicologia Solidária COVID-19, coautora do livro Oficina das Emoções II

Jaci Aragão