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PING-PONG COM A RME: especialista em formalização de negócios, Julieine Ferraz também faz parte da Rede

Julieine Ferraz esclarece dúvidas sobre pontos importantes durante a criação de um negócio

Publicado em 4 de abril de 2022

Julieine Ferraz é advogada, sócia de um escritório de advocacia especializado em soluções jurídicas empresariais, multiplicadora e voluntária da RME. Como uma das milhares de mulheres empreendedoras que descobriram a RME em busca de apoio, no início do seu negócio, porque ela não sabia por onde começar. “Eu sabia fazer o trabalho jurídico, mas não sabia realizar a gestão de um negócio,  não tinha ideia de como captar clientes, não sabia organizar a parte financeira. E quando eu fui em busca de conhecimento, eu conheci a RME e escolhi a Fernanda Nascimento como minha mentora, fiz cursos com ela para entender como me organizar e participei de vários eventos para entender como tudo funcionava. Eu cheguei sem saber por onde começar e saia dos eventos com um mapa pronto”, relembra ela. Hoje, ela está aqui no site da RME para dar dicas de ouro para as empreendedoras de primeira viagem.

RME: Para mulher que acabou de se tornar empreendedora, quais são os primeiros passos que ela deve dar para a formalização do negócio dela? 

JFN: A primeira coisa que essa mulher precisa entender é se ela vai desenvolver esse negócio sozinha ou se ela vai ter sócios ou sócias, porque o tipo de empresa muda. Para trabalhar sozinha ela pode abrir uma MEI ou uma limitada unipessoal e com sócios, uma sociedade limitada. Existem outros tipos de empresas, mas para quem está abrindo um negócio, esses são os tipos mais comuns. É importante entender também que não é todo mundo que consegue ser MEI, porque tem uma lista de atividades que podem ser este tipo de empresa. Então é necessário ver se a atividade que a pessoa vai desenvolver está na lista, e se não estiver, ela vai precisar abrir uma limitada unipessoal. Outro ponto importante é que o MEI tem limite de faturamento  anual, então se durante a atividade da empresa o faturamento aumentar e ultrapassar o limite, também é possível mudar para unipessoal sem problema algum. Todas as informações necessárias para entender e abrir um MEI podem ser encontradas no Portal do Empreendedor. A empreendedora precisa também verificar se o nome escolhido para ser a marca do negócio já foi registrado por alguém antes, ou se está disponível para ela usar. É possível verificar isso fazendo uma pesquisa no INPI. Se estiver livre, é importante fazer o registro para que outras pessoas não usem e faturem em cima da marca dela.

RME: E para a empreendedora que vai abrir uma sociedade, qual erro não se pode cometer de jeito nenhum para não prejudicar o início desse negócio?

JFN: Para a empreendedora que vai abrir uma sociedade, é recomendável que ela tenha ajuda de um profissional para fazer o procedimento correto. Ela basicamente vai abrir a empresa, registrar em três entidades reguladoras e desenvolver um contrato social com todas as regras que esta sociedade deve seguir, como quais são as atividades desenvolvidas, quem assina em nome da empresa, regras para venda de quotas, entre outras coisas. Por isso que é recomendável o auxílio de um profissional, porque muitas pessoas pegam um modelo da internet e o protocolam só para receber o CNPJ, mas não é assim que funciona. Muitos problemas da empresa podem ser resolvidos com a ajuda deste documento, desde que ele esteja bem estruturado.

Por exemplo, em uma sociedade, com quatro pessoas, definiu-se no contrato social que qualquer um dos sócios pode assinar documentos em nome da empresa. Um deles acha que é super vantajoso pegar um empréstimo com o banco para alavancar a empresa e os outros discordam. Em segredo, esse sócio assina o empréstimo e endivida a empresa contra a vontade da maioria. Para evitar esse tipo de situação, uma trava poderia ter sido acordada, algo como “uma movimentação acima de 30 mil reais requer assinatura de três dos quatro sócios”. Então, um contrato social bem feito, pode resolver muitas questões que podem surgir ao longo da sociedade e evitar muitos problemas.

RME: Para as empreendedoras que já estão com o negócio mais avançado, crescendo e vão transformar a empresa em uma sociedade. Qual ponto merecem uma atenção especial para que a sociedade não vire um pesadelo?

JFN: Uma questão que resulta em muitas brigas em empresas pequenas é a falta do acordo de cotistas. Em uma empresa grande, podem existir sócios que apenas atuam como investidores, ou seja, colocam dinheiro para ajudar o negócio, mas não trabalham. Já em uma empresa pequena, geralmente os próprios sócios é que colocam a mão na massa para trabalhar, porque no começo ainda não há verba para contratar funcionários. Vejo muitos conflitos acontecerem quando o cenário combinado inicialmente precisa mudar. 

Por exemplo, dois sócios fazem investimento na empresa, combinam que cada um terá 50% do negócio e trabalham todos os dias para o negócio crescer. Depois de um tempo um dos sócios diz que não poderá mais trabalhar todos os dias. Como a empresa não tem funcionários, o fato desse sócio parar de trabalhar prejudica o andamento do negócio. Daí fica a pergunta: esse sócio que parou de trabalhar deve continuar com 50% da empresa, ou sua parte deve diminuir porque ele está trabalhando menos? Geralmente, o sócio que para de trabalhar acha que deve manter os 50% para compensar todo o tempo e dinheiro que já investiu no negócio, mas o sócio que segue trabalhando se sente injustiçado porque agora só ele trabalha, e, por isso, acredita que a porcentagem do outro deve diminuir. É preciso que haja um alinhamento sobre o que fazer se esse tipo de problema acontecer, e o acordo de quotista serve justamente para fazer esses alinhamentos. Se esses detalhes são definidos no início da sociedade, evitam-se desgastes financeiros e emocionais quando um problema surgir. 

RME: Para empreendedoras leigas quanto a segurança na internet, com o que elas devem tomar cuidado enquanto gerenciam redes sociais, geralmente principal ponto de venda de seus produtos ou serviços, e sites? O que elas devem saber sobre a LGPD?

JFN: Quando falamos de LGPD estamos falando sobreproteção de dados pessoais. Dado pessoal é qualquer informação que permita identificar um ser humano. Se você tem um negócio e você tem posse de informações que permitem identificar um ser humano, então significa que a LGPD se aplica a você. É importante que você tenha o cuidado de estudar de forma mais aprofundada sobre essa lei, porque tem vários detalhes que podem variar de acordo com cada negócio. Mas, em linhas gerais, é importante ter cuidado com dados de pessoas, porque não se pode invadir a privacidade dos outros. É preciso sempre analisar se os dados que estão recolhendo e utilizando são essenciais para o funcionamento do negócio. 

Vamos supor que você venda bolo e vai entregar esse bolo na casa da cliente. Você vai precisar do nome, endereço completo, forma de pagamento e afins, para conseguir concluir essa venda. Há necessidade de saber a religião da pessoa para realizar esse serviço? Não! E esses dados precisam ser protegidos e acessados apenas por quem vai fazer o trabalho. Com o regime home office em alta, a pessoa que está trabalhando de casa deixa o computador ligado, com vários dados pessoais dos seus clientes na tela e a família toda circulando pela casa… Todos que passam na frente do computador veem tudo o que está ali na tela! Não pode. A falta de proteção pode causar um incidente de vazamento de dados e, se isso acontecer, a sua empresa pode levar uma multa por descumprir a LGPD. 

Se você se precisa entender mais sobre a LGPD, o escritório de advocacia Ferraz Nascimento tem um ebook gratuito sobre o assunto. Basta entrar em contato, no e-mail jfn@ferraznascimento.com.br, e solicitar o envio.

RME: Alguns eventos, principalmente os presenciais, são muito emocionantes de participar, por ser a materialização de todo o trabalho da Rede. Sejam capacitações, mentorias, cafés ou até mesmo os Fóruns. Qual evento ou momento te marcou mais desde que você se juntou a RME?

JFN: O evento que mais me marcou foi o último Fórum presencial, em 2019. Ele foi muito legal por causa do networking que ele proporcionou. Tinham vários stands com as empresas que estavam se apresentando. Eu parei em vários para conhecer quem estava lá e alguém do lado já começava a conversar comigo também. Rolou muita troca de informações, risadas e contatos. Foi muito bom também porque eu estava lá como palestrante e é sempre uma experiência muito gostosa, porque a gente compartilha, troca informações com quem está presente. No evento presencial, quando a pessoa vem conversar com você no fim da palestra, você tem aquele contato humano, próximo. Às vezes a pessoa acabou ficando muito interessada naquilo que eu falei, pede dicas para o próprio negócio e eventualmente eu consigo capitar clientes. Mas o mais importante é que eu conheço pessoas e mantenho uma conversa leve, diferente da experiência online.

ARTIGO ESCRITO POR

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Formada em Jornalismo, seu Trabalho de Conclusão de Curso foi uma pesquisa crítica acerca do olhar que a grande mídia tem sobre corpos femininos negros e as narrativas sobre eles construídas. Apaixonada por conhecimento e curiosa para entender mais sobre o mundo, segue estudando sobre comportamento, colorismo e mídia.

Karina Souza Quenis Jornalista