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“Felicidade, sobrevivência, orgulho e dignidade”

Helena Rocha, presidente da Pipa Social, ONG localizada no Rio de Janeiro, contou como foi a participação no projeto Heróis Usam Máscaras     Para gerar emprego e renda para costureiras e artesãs de favelas cariocas, fazer a ponte entre elas e o mercado, dar acesso à informação de qualidade sobre moda, design e artesanato, […]

Publicado em 17 de setembro de 2020

Helena Rocha, presidente da Pipa Social, ONG localizada no Rio de Janeiro, contou como foi a participação no projeto Heróis Usam Máscaras

 

 

Para gerar emprego e renda para costureiras e artesãs de favelas cariocas, fazer a ponte entre elas e o mercado, dar acesso à informação de qualidade sobre moda, design e artesanato, e ajudá-las na formalização de seus negócios, foi fundada em 2012 a ONG Pipa Social, que trabalha com pessoas que desejam empreender dentro da área artística e criativa da moda, mas não têm oportunidades por fatores como distância do centro e baixa escolaridade.

 

 

A Pipa tem um banco de talentos desde 2012, que atualmente está com 250 profissionais cadastrados, e aplica uma metodologia que tem início, meio e fim, estimulando a capacitação de qualidade, visibilidade e a autonomia dos participantes. As parcerias para executar todo esse trabalho vem da comunidade acadêmica, do corporativo e do próprio mercado de moda. A intenção é que o participante saia da ONG sabendo precificar, fazer estoque, tratar com o cliente, criar suas próprias peças e logomarca e se posicionar nas redes sociais.

Em uma conversa com Helena Rocha, fundadora da Pipa Social, ela explicou que os participantes, sendo 98% do grupo composto por mulheres, tiveram, por exemplo, um semestre de aulas na Faculdade de Belas Artes, da UFRJ, onde aprenderam muito mais sobre estamparia. O Instituto Europeu de Design, a PUC e o Senai Cetiqt são também parceiros de capacitação. 

 

 

É propósito da Pipa Social também a sustentabilidade ambiental por meio do slow fashion. Normalmente a Pipa trabalha com materiais doados pela indústria têxtil desde sua criação, por isso Helena ressalta a vanguarda da proposta. Outro pilar é o comércio justo, além de visitas a museus e outros espaços culturais, tudo pensado para dar uma visão 360º para que os participantes tenham mais referências que possam ser levadas para seus trabalhos criativos.

 

 

Como um coletivo, os participantes da organização trabalham juntos em cima dos conceitos das peças, todos participam e dão palpite de como vai ser a coleção. Com a pandemia, isso deixou de ser possível, assim como as oficinas e visitas a locais que pudessem dar inspiração para as profissionais. Com a incerteza crescente, muitas lojas, que antes contratavam a Pipa para produzir roupas e acessórios, deixaram de demandar. Algumas, sem previsão de melhora, fecharam as portas, deixando várias pessoas sem emprego. 

 

 

Os pontos de venda da Pipa com parceria em lojas multimarcas, tirando o e-commerce, também foram fechados, causando um enorme empecilho para a continuidade das atividades habituais. “Falei ‘bem, vou fechar!’ Não tinha como continuar pagando funcionário, aluguel, luz, internet, todas as coisas que tinham que ser feitas. Eu fiquei bastante desesperada. Avisei todo mundo que não tinha mais dinheiro, daí elas começaram a me mandar fotos das geladeiras delas.”, explicou Helena. Com as crianças fazendo todas as refeições em casa, era ainda mais essencial para as profissionais terem uma fonte de renda.

 

 

A solução inicial foi executar uma campanha de arrecadação de dinheiro para comprar comida para as famílias beneficiadas pela Pipa, uma ação bacana, que teve aderência, mas que não era sustentável a longo prazo. No final de abril começaram a perguntar se a Pipa fazia máscaras. “Qualquer costureira nossa vai fazer com os pés nas costas”, brincou Helena.

 

 

Foi assim que começou. Colocaram nas mídias e os pedidos começaram a chegar de hospitais, mercados, pequenas empresas e pessoas físicas. Helena narra com alegria que foi um alívio, a Pipa não precisaria mais fechar e as profissionais participantes estavam conseguindo renda. “Começou a andar de novo. Só de conseguir respirar, saber que não tinha ninguém passando fome fez um bem danado para gente!”, disse.

 

 

A Caixa Social, uma empresa parceira da Pipa, indicou o projeto Heróis Usam Máscaras. O Instituto Rede Mulher Empreendedora, que coordenou o projeto com inúmeras organizações em todo Brasil, não era estranho para a organização, que já tinha recebido capacitações do programa Ela Pode, feito em parceria com o Google, por meio da Inês Rocha, uma das multiplicadoras do projeto no Rio de Janeiro. 

 

 

Quando questionada sobre os impactos do Heróis Usam Máscaras em sua organização, Helena usou as palavras felicidade, sobrevivência, orgulho e dignidade. As costureiras recebiam os tecidos nas casas delas, produziam com muita segurança e devolviam para a organização. 

 

 

“Todas as causas que vinham pedir máscaras para gente eram super especiais, que faziam o coração da gente tremer de felicidade por saber que estaríamos ajudando não só as nossas costureiras e artesãs, mas muito mais gente, porque teria uma distribuição para pessoas que realmente não poderiam comprar. Isso foi uma alegria e um orgulho muito grande para a Pipa Social”, disse.

 

 

Helena contou que se não fosse o Heróis Usam Máscaras, a Pipa talvez tivesse fechado, porque as outras encomendas que chegavam não eram grandes. “O Heróis foi a nossa maior demanda. Com a confecção de máscaras, principalmente com o Heróis Usam Máscaras, a gente pode permanecer com as portas abertas. Essa quantidade é que nos salvou”, explicou.

 

 

Com o passar do tempo e as buscas cada vez mais empenhadas pela vacina, Helena está confiante. Os clientes, segundo ela, estão voltando esperançosos, além dos clientes novos que conheceram a Pipa durante a pandemia e que querem agregar valor social às suas marcas. Uma coleção que estava pronta para ser lançada no exterior em abril já tem planos de ser tirada das caixas e gavetas para ser lançada em breve aqui, no Brasil. 

 

 

“Queria agradecer mil vezes à RME por tudo isso. Não tenho palavras para agradecer esse projeto por ter salvo a Pipa Social dessa forma. Quando eu digo Pipa Social, é a equipe inteira. Vai ter um dia que vamos chamar a equipe da RME para ir na Pipa conhecer, para a gente poder sentar, fazer um café da manhã e contar tudo, vai ser muito feliz esse dia que a gente vai poder retribuir essas bênçãos que vieram para gente nesse momento de tanta tristeza.”, finalizou Helena. 

 

 

“O projeto Heróis Usam Máscaras é de fundamental importância para gerar renda para mulheres de todo Brasil. O projeto só foi possível por conta da vontade de várias organizações de fazer a diferença. Elas não mediram esforços para o propósito de promover autonomia financeira das mulheres. Sem dúvida, estamos muito felizes com o resultado e esperamos que mais organizações tenham essa visão que de que causas estão acima de marcas. A união é que realiza transformação social.”, completou Ana Fontes, fundadora do Instituto RME.

 

 

Sobre o Heróis Usam Máscaras

 

 

O projeto Heróis Usam Máscaras foi coordenado pelo Instituto RME e contou com a participação de 67 organizações da Sociedade Civil, que administraram o trabalho de 6.000 costureiras e costureiros, sendo que os homens representam 10%. 

 

 

Um dos objetivos do projeto foi a geração de renda para mulheres em situação de vulnerabilidade social. Costureiras que em outros locais recebiam apenas R$ 0,30 por máscara receberam em média R$ 1,52 por unidade produzida.