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“Eu ganhei uma benção muito grande”

Dionísia foi uma das 6 mil costureiras empregadas pelo projeto Heróis Usam Máscaras na pandemia. Trabalhando com as filhas, ela conseguiu confeccionar gerar renda, que usou para pagar contas e ajudar outras mulheres     Dionísia dos Santos, de 58 anos, mãe de três filhas e moradora de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, […]

Publicado em 29 de setembro de 2020

Dionísia foi uma das 6 mil costureiras empregadas pelo projeto Heróis Usam Máscaras na pandemia. Trabalhando com as filhas, ela conseguiu confeccionar gerar renda, que usou para pagar contas e ajudar outras mulheres

 

 

Dionísia dos Santos, de 58 anos, mãe de três filhas e moradora de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, foi uma das participantes do projeto Heróis Usam Máscaras, coordenado pelo Instituto RME, com o apoio dos banco Bradesco, Itaú e Santander. A história dela é de muita superação e, após o impacto experimentado no projeto, decidiu que vai se dedicar mais ao trabalho social para ajudar outras pessoas, assim como ela foi amparada quando infelizmente se tornou estatística.

 

 

Com o segundo ano do ensino médio completo, Dionísia se sustenta com a costura há alguns anos e, com o dinheiro que entrava por meio de consertos em roupas e confecção de peças para lojas, ela conseguia manter as contas de casa em dia. No entanto, com a chegada da pandemia, a falta de clientes e a demissão das duas filhas que moram com ela, Dionísia se viu em uma bola de neve de dívidas e totalmente sem renda.

 

 

Sem conseguir quitar as contas e comprar comida, ela ficou desesperada. Na semana que cortaram o fornecimento de energia elétrica da casa dela, chegou a notícia, pela Associação de Capacitação e Instrução de Economia Solidária do Povo (ACIESP), onde ela é atendida psicológica e socialmente, que tinha um programa de geração de renda disponível.

 

 

Voltando um pouco no tempo dá para entender como Dionísia conheceu a ONG. Quando ela casou com um peão de fazenda sua vida mudou. Morando longe da cidade, ela foi vítima de violência doméstica. Segundo ela, o marido a espancava, principalmente quando bebia, e ela tem cicatrizes até hoje. Após anos de desespero, ela tomou a corajosa decisão de pegar as filhas e voltar para a cidade. Já estabelecida, conheceu a ONG ACIESP e outras mulheres que passaram pelo mesmo que ela e sua vida melhorou. Três anos depois, o homem morreu sozinho no interior sem antes lhe conceder o divórcio.

 

 

“Não desejo isso para ninguém porque é muito sofrido. Mesmo fazendo tratamento, é uma dor que eu nunca vou esquecer”, disse.

 

 

Com a feliz notícia de que teria renda, a costureira, que tinha mais duas máquinas chamou suas duas filhas para trabalhar com ela. Juntas, conseguiram renda de R$ 10 mil reais, que possibilitou que elas pagassem as contas e comprassem comida. Além disso, Dionísia destinou 10% do salário para comprar sacolão – para quem não conhece, a expressão fala de frutas, legumes e hortaliças – para vizinhas que também estavam em situação difícil. 

 

 

Ela elogiou a ação da ONG e a define como mãe. Das mulheres atendidas, mesmo quem não sabia costurar teve um curso básico para aprender e também teve a disposição máquinas de costura para a execução do trabalho. Segundo ela, 15 mulheres trabalharam de casa e algumas trabalharam com toda segurança na própria ONG de segunda a sexta.

 

 

Dionísia ainda tem parte do dinheiro guardado, porque sabe que arrumar emprego fixo depois dos 50 anos é mais difícil por conta do etarismo, preconceito contra idosos. Sem o projeto Heróis Usam Máscaras, que ela define como um milagre, disse que não sabe o que seria de sua vida.

 

 

“Estou muito feliz e agradecida por vocês serem anjos de Deus! Depois que passa dos 50, ninguém quer dar serviço para a gente. Se essa renda não tivesse entrado eu não sei o que seria da minha vida e das minhas filhas. Eu não tinha mais nada para comer, só o sacolão que a ONG dava. Não tinha serviço, era uma situação muito difícil.”, completou.

 

 

O que fica do projeto é a esperança de um mundo melhor e a confiança de que a solidariedade pode transformar vidas. “Eu tenho meu ateliê e quero ajudar as pessoas, assim como fui ajudada. Isso me despertou o anseio de ser útil para a sociedade. Agora que vai acabar a pandemia, ainda vai ter muitas pessoas necessitadas. Eu tirei uma lição grande, porque quando começou a acontecer tudo o mundo desabou na minha cabeça, e quando tudo parecia perdido aconteceu esse milagre que conseguiu ajudar a gente. Eu ganhei uma benção muito grande!”, finalizou. 

 

 

“O projeto Heróis Usam Máscaras é de fundamental importância para gerar renda para mulheres de todo Brasil. O projeto só foi possível por conta da vontade de várias organizações de fazer a diferença. Elas não mediram esforços para o propósito de promover autonomia financeira das mulheres. Sem dúvida, estamos muito felizes com o resultado e esperamos que mais organizações tenham essa visão que de que causas estão acima de marcas. A união é que realiza transformação social.”, completou Ana Fontes, fundadora do Instituto RME.

 

 

Sobre o Heróis Usam Máscaras

 

 

O projeto Heróis Usam Máscaras foi coordenado pelo Instituto RME e contou com a participação de 67 organizações da Sociedade Civil, que administraram o trabalho de 6.000 costureiras e costureiros, sendo que os homens representam 10%. 

 

 

Um dos objetivos do projeto foi a geração de renda para mulheres em situação de vulnerabilidade social. Costureiras que em outros locais recebiam apenas R$ 0,30 por máscara receberam em média R$ 1,52 por unidade produzida.