Costureiras que passaram a salvar vidas com seu trabalho
Fundadora da Rede Asta contou para o Instituto RME como foi coordenar produção de máscaras em seis estados simultaneamente Há 15 anos surgiu a Rede Asta com o objetivo de apoiar artesãs que trabalhavam dentro de uma cooperativa a desenvolverem seus produtos da melhor forma, visando também o aproveitamento de matéria prima e […]
Publicado em 17 de setembro de 2020
Fundadora da Rede Asta contou para o Instituto RME como foi coordenar produção de máscaras em seis estados simultaneamente
Há 15 anos surgiu a Rede Asta com o objetivo de apoiar artesãs que trabalhavam dentro de uma cooperativa a desenvolverem seus produtos da melhor forma, visando também o aproveitamento de matéria prima e resíduos. A ampliação do acesso ao mercado e o treinamento empreendedor, por meio da Escola de Negócios, também foram pilares pensados no início, que sustentam a organização até os dias atuais.
De 30 pessoas, em 2005, hoje a Rede Asta reúne 10 mil mulheres artesãs distribuídas em grupos pelo Brasil, que produzem itens exclusivos e vendem em diversos lugares, inclusive para grandes organizações preocupadas com a sustentabilidade e a inclusão.
“Asta” vem de Astrea, uma deusa grega que, de acordo com a história, foi enviada ao mundo dos mortais para acabar com um período de maldade e inveja. Por conta de seus serviços, os humanos viveram uma época de justiça e igualdade.
Tentando alcançar essas duas virtudes também na pandemia, as costureiras e artesãs da rede passaram a confeccionar os chamados EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). “A gente já estava vindo de um processo bem difícil, financeiramente. Quando chegou a pandemia, a gente achou que a coisa fosse acabar e que não daria para ir em frente, mas muito rápido a gente se especializou na produção de máscaras hospitalares e começamos a vender para hospitais, planos de saúde e grandes empresas que viam na gente a possibilidade de comprar e de gerar renda para quem mais estava precisando”, explicou Alice Freitas, uma das fundadoras da organização social.
Nesta fase, foram dois milhões de EPIs feitos em dois meses e meio, que atenderam a mais de 15 hospitais de São Paulo. A organização também criou o Localizador de máscaras, que cadastrou 7 mil costureiras até hoje e foi de extrema importância para que costureiras e artesãs locais fossem encontradas e pudessem vender os itens de segurança até mesmo em regiões mais afastadas no país.
“A pandemia trouxe essa demanda de milhões de peças, que a gente nunca tinha recebido antes na vida, mas estávamos muito preparadas. O caixa se oxigenou e a gente tá conseguindo colocar nossos planos em ação. Foi muito importante!”, disse.
Como Alice faz parte de grupos de empreendedoras onde Ana Fontes – fundadora da RME e do Instituto RME – também está, ela foi convidada a fazer parte do projeto Heróis Usam Máscaras, visto que Ana estava acompanhando a produção da Rede Asta para os hospitais e confiava no potencial da empresa para produzir algo tão essencial em tão pouco tempo. Vendo a oportunidade de expandir as operações e ajudar muito mais mulheres, Alice topou a produção de três milhões de máscaras no projeto.
Segundo ela, o maior impacto foi uma injeção de recursos na organização e na vida de mais de 400 mulheres, espalhadas por seis estados. “Fora a parte financeira, a participação no projeto deu muita energia e segurança para a gente entender o nível de trabalho que a gente era capaz de fazer e no nível de escala que estávamos prontas para atuar. Trouxe uma autoestima organizacional muito forte”, afirmou.
Com uma produção tão grande dividida entre Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro e São Paulo, a Rede Asta, que contou com a coordenação do Instituto RME, selecionou os grupos e cooperativas de costureiras e artesãs a dedo e repassou todas os protocolos de segurança e diretrizes recebidos do Instituto RME, entre eles, a troca de máscaras a cada três horas, o uso contínuo de álcool 70 nas mesas e a distância de 1,5 metros de distância nos casos que as mulheres iam trabalhar presencialmente.
Além disso o projeto Heróis Usam Máscaras também realizou a ponte entre a Rede Asta e a Coteminas, através de parceria com o Instituto RME, por meio do qual a Rede Asta adquiriu muitos kits e os entregavam cortados nas unidades produtivas. A Rede Asta produziu também em Nova Friburgo, polo de lingerie no Rio de Janeiro, onde muitas mulheres estavam desempregadas por conta da queda na venda das peças não essenciais. “Quando não conseguimos com a Coteminas, conseguimos com produtores de elástico e de tecido locais para fortalecer.”, acrescentou.
Sem a participação no projeto, Alice fala que teria deixado de gerar renda para mais de 460 mulheres que estavam em uma situação difícil e de conquistar um caixa importante, que agora será investido em uma nova tecnologia social, que vai trabalhar com conexão de produtores locais, que produzem com as mãos, a partir do ano que vem.
“A liberdade de selecionar o número de máscaras que a gente queria produzir, foi muito bom! Esse desafio que o Heróis deu para a gente foi uma grande prova para a gente entender que consegue mobilizar milhares de pessoas a distância e que está no nosso DNA. O processo foi de muita parceria e escuta. O futuro é a implementação de tecnologia social para potencializar economias locais e fazer essas produções virem para o mercado sem precisar de intermediários. O céu é o limite.”, disse.
Para as costureiras e artesãs envolvidas a renda e o letramento digital foram essenciais. A produção consciente de que aqueles itens todos iriam para doação para pessoas que não podiam pagar, segundo ela, foi muito gratificante. “Elas diziam assim: ‘é a primeira vez que eu tô produzindo uma coisa que salva vidas!’ Isso para elas foi lindo, essa autoestima e esse empoderamento!”, finalizou.
“O projeto Heróis Usam Máscaras é de fundamental importância para gerar renda para mulheres de todo Brasil. O projeto só foi possível por conta da vontade de várias organizações de fazer a diferença. Elas não mediram esforços para o propósito de promover autonomia financeira das mulheres. Sem dúvida, estamos muito felizes com o resultado e esperamos que mais organizações tenham essa visão que de que causas estão acima de marcas. A união é que realiza transformação social.”, completou Ana Fontes, fundadora do Instituto RME.
Sobre o Heróis Usam Máscaras
O projeto Heróis Usam Máscaras foi coordenado pelo Instituto RME e contou com a participação de 67 organizações da Sociedade Civil, que administraram o trabalho de 6.000 costureiras e costureiros, sendo que os homens representam 10%.
Um dos objetivos do projeto foi a geração de renda para mulheres em situação de vulnerabilidade social. Costureiras que em outros locais recebiam apenas R$ 0,30 por máscara receberam em média R$ 1,52 por unidade produzida.