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Como investir em saúde mental nas Pequenas e Médias Empresas

Mesmo sem programas robustos de apoio psicológico, empreendedores podem apostar em pequenas ações para viabilizar incentivo à saúde mental e bem-estar a seus colaboradores; veja dicas

Publicado em 10 de novembro de 2025

Nos últimos anos, a saúde mental deixou de ser apenas um assunto secundário na agenda de empresas, tendo agora uma importância estratégica para o sucesso organizacional. Com o aumento da pressão no ambiente de trabalho, as transformações aceleradas no modo de viver e produzir e a influência da tecnologia, especialmente após a pandemia, é ainda mais evidente a urgência de promover ações que apoiem o equilíbrio emocional e a qualidade de vida dos colaboradores.

No Brasil, a relevância dada ao tema pode ser vista em números. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Previdência Social, o país atingiu o maior número de pedidos de afastamento do trabalho por transtornos mentais dos últimos 10 anos. Ao todo, foram mais de 470 mil casos apenas em 2024.

Trata-se também de um problema que atinge até mesmo quem está nos bastidores do mundo corporativo. De acordo com uma pesquisa da Endeavor, 94% dos empreendedores brasileiros já enfrentaram algum tipo de doença mental, como ansiedade e burnout, motivadas pela estressante rotina de gestão empresarial.

Em vigor desde maio de 2025, as atualizações da NR-1, principal norma regulamentadora das normas de trabalho no Brasil, também trouxe ainda mais protagonismo às discussões sobre saúde mental no ambiente corporativo. Com ela, empresas passam a ter de olhar para o tema de forma institucionalizada, tornando responsabilidade dos empregadores garantir condições adequadas de segurança e bem-estar no trabalho.

Deixando de lado os riscos jurídicos, empresas que não colocam a saúde mental em pauta também estão sujeitas a queda de indicadores importantes para o negócio, e é claro, para sua sobrevivência. Entre eles estão o absenteísmo, alta rotatividade de funcionários, improdutividade e uma cultura organizacional pouco convidativa a novos talentos. O risco é ainda mais sensível ao considerar as micro e pequenas empresas, com times enxutos e poucos recursos para lidar com baixas operacionais.

Com menos recursos à disposição e desafios clássicos de gestão, como a intervenção direta dos fundadores no dia a dia operacional do negócio, a criação de programas robustos de saúde mental pode ser um desafio para PMEs. Contudo, empreendedores podem se apoiar em ações práticas para tornar o tema de ordem em suas empresas.

Segundo Jéssica Palin Martins, advogada, psicóloga e especialista em saúde mental no ambiente corporativo, é possível construir um ambiente de trabalho mais seguro e saudável, também no caso das pequenas empresas.

A primeira dica, segundo ela, é saber identificar o que é prioridade e o que é dispensável, em se tratando de saúde mental. “O maior desafio para PMEs é não cair em soluções superficiais ou modismos que parecem “bonitos”, mas não geram impacto real”, afirma. Para ela, toda iniciativa nessa frente deve partir da escuta ativa e empática no ambiente de trabalho, de relações saudáveis e respeitosas entre liderança e equipe e estabilidade emocional e segurança psicológica.

Nesse cenário, fugir de modismos ou de práticas pouco efetivas é a solução. Como exemplo, ela cita as ações pontuais e sem continuidade para acompanhar sua efetividade e resultados, como palestras motivacionais isoladas e eventos e brindes desconectados à missão de longo prazo da empresa.

Como começar a apoiar a saúde mental na sua PME

Como passo inicial, a especialista recomenda uma avaliação criteriosa das prioridades e da percepção da equipe a respeito do assunto, na tentativa de compreender o estado de estresse, ansiedade ou desconforto dos times. “Escuta é o ponto de partida”, afirma. Depois disso, é preciso revisitar processos pouco eficientes e que podem estar prejudicando o bem-estar e produtividade da equipe, o que a psicóloga chama de “gatilhos de adoecimento”.

Por fim, é essencial que a cultura da empresa esteja voltada à segurança psicológica, com incentivos formais à troca de opiniões e feedbacks que promovam acolhimento de forma humanizada e não engessada. “Não é sobre fazer muito, mas fazer com verdade e constância”, conclui.

Além disso, diante de um menor volume de recursos para investimento, empreendedores podem apostar em pequenas ações e políticas em favor de hábitos saudáveis e estabilidade emocional. Jessica recomenda rodas de conversa mensais sobre bem-estar e escuta emocional, flexibilização de horários ou pausas estratégicas durante períodos mais críticos e também a criação de parcerias com terapeutas locais, clínicas populares ou apps de saúde emocional e física, por exemplo.

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ARTIGO ESCRITO POR

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Passou por publicações como Exame, Época Negócios e Autoesporte, e colaborou com a Gazeta do Povo, Cajuína e CNN. Vencedora do Prêmio de Destaque em Franchising em 2022 e coautora do livro "Mulheres no Jornalismo".

Maria Clara Dias Jornalista especializada em negócios, empreendedorismo e tecnologia