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Cinquentei, e agora?

*Por Lilian Rodrigues   Cinquentei! Não podia estar mais feliz! Assim dizia o convite que recebi para a festa dos 50 anos de uma amiga no final de semana. Foi uma “bus party”, uma balada incrível com direito a pista de dança, DJ, bar, pole dance e muito mais, tudo isso dentro de um ônibus […]

Publicado em 3 de maio de 2019

*Por Lilian Rodrigues

 

Cinquentei! Não podia estar mais feliz! Assim dizia o convite que recebi para a festa dos 50 anos de uma amiga no final de semana. Foi uma “bus party”, uma balada incrível com direito a pista de dança, DJ, bar, pole dance e muito mais, tudo isso dentro de um ônibus em movimento. Minhas amigas e eu nos divertimos a valer, rindo e festejando sem nunca perder o equilíbrio. E quando digo “equilíbrio” me refiro não só aquele momento especial que é a junção de mente, corpo e espírito que só a maturidade é capaz de trazer, mas também ao equilíbrio físico mesmo, pois equilibrar gargalhadas, salto alto e pole dance com os solavancos do ônibus, garanto, não é para os fracos. Claro, cada uma de nós teve que vencer e aprender com alguns sobressaltos da vida para chegar ali e não seria um ou outro defeito no asfalto que iria nos derrubar. Foi uma festa linda.

 

No mesmo final de semana, fui à um evento para “maturis”, denominação usada para definir o grupo de pessoas com 50 anos ou mais, onde foram abordados assuntos diversos, mas cujo foco principal foi nas diversas maneiras de se reinventar e empreender.

 

Impossível não traçar o paralelo entre os dois eventos e, depois de conversar com as pessoas que participaram deles, de uma coisa eu tive certeza: a imagem de pacatas velhinhas esperando pacientemente pela visita dos parentes enquanto fazem crochê ou de senhores aposentados jogando dominó na praça, conversando sobre a seleção de futebol de 70 não poderiam ser mais distantes da realidade.

 

Hoje em dia o que temos são pessoas de 40, 50, 60 anos ou mais que malham, vão a festas, empreendem e, acima de tudo, correm atrás daquilo de que precisam para serem felizes.

 

Trata-se de um fenômeno mundial. Ao contrário do que acontecia até a geração passada, profissionais “maturis” não estão mais a caminho da aposentadoria. Muito pelo contrário.  

 

No Brasil temos cerca de 54 milhões de pessoas com mais de 50 anos e a previsão é que este número chegue a 93 milhões em 2045. Hoje, este nicho movimenta sozinho cerca 1.6 trilhão de reais. Não se pode ignorar números como estes.

 

Segundo a pesquisa da Universidade de Michigan, pessoas com mais de 50 anos já representam 40% da força de trabalho nos Estados Unidos. Com o aumento da longevidade e a diminuição da taxa de natalidade, é de se esperar que esta porcentagem aumente ainda mais, chegando a 57% em 2040 e esta é uma tendência mundial. Esses números também impressionam.

 

Mas longevidade e qualidade de vida não são os únicos fatores predominantes aqui. Há de se creditar essa mudança de comportamento também ao amadurecimento cultural. Embora o fator econômico e a necessidade de continuar a prover o sustento da família ainda sejam questões primordiais, é fácil perceber que a vontade de permanecer no mercado de trabalho vai muito além disso. Trata-se do desejo de se manter produtivo, assim como da busca da realização pessoal e a isso se deve também a presença cada vez maior deste grupo nas salas de aula e a certa naturalidade com que encaram o desafio de se “reinventar”.

 

De maneira geral, o profissional “maturi” é mais assertivo, conhece tanto sua capacidade de realizar como a de aprender. Se a necessidade às vezes o impulsiona a tentar novos caminhos, a experiência o ensina a ponderar e a se preparar com mais cautela para os percalços do empreendedorismo e o deixa mais preparado para os “solavancos” do percurso. Tanto que, segundo a pesquisadora Lynne Cadenhead, do Women’s Enterprise Scotland, negócios iniciados por mulheres “maturis” têm uma probabilidade de 70% de sobreviverem aos primeiros cinco anos, contra os apenas 24% dos negócios iniciados por mulheres de outras faixas etárias.

 

Continuo torcendo para que nossos representantes também estejam atentos aos novos tempos e providenciem em breve políticas públicas mais condizentes com essa realidade. Enquanto isso, felizmente, muitas empresas já se conscientizaram das vantagens de focar não apenas no “primeiro emprego”, mas também no aproveitamento dos profissionais que se encontram na outra ponta e que representam toda uma força produtiva que vinha sendo desperdiçada e estão abrindo novas vagas para os “maturis. 

 

Ainda temos um bom caminho a percorrer, mas aos poucos vamos driblando o preconceito, e quebrando paradigmas. Novos e favoráveis ventos estão soprando e eu estou otimista com as oportunidades que estão surgindo e com as boas perspectivas que o futuro nos reserva.

 

Minha amiga tem toda a razão: “Cinquentei” e não poderia estar mais feliz!

 

*Empreendedora, professora e mãe, acredita que é através da educação que mudamos o mundo. Durante dez anos comandou o Centro Britânico Idiomas que virou case e referência na franqueadora. Fez parte do FGV 10.000 Mulheres Goldman Sanchs e do Business Foundation da Selc Career College em Vancouver. Foi voluntária na ASEC – Associação pela Saúde Emocional da Criança e na Fundação Vó Ambrozina.