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Alta performance, resiliência maior ainda: o que aprendi conversando com 45 empreendedoras

Oque há de comum entre as mulheres que estão protagonizando o empreendedorismo de alta performance no Brasil? Existe uma dose de eficiência, gestão de tempo e foco, mas as características mais importantes vão muito além disso

Publicado em 20 de março de 2023

Existe uma máxima, muito antiga, que diz que uma pessoa só se completa quando planta uma árvore, tem um filho e escreve um livro. Se for verdade, Vanessa Cotosck pode se considerar completa; porque, é mãe, apaixonada pela natureza e uma das organizadoras do livro Empreendedoras de Alta Performance (Editora Leader). Na verdade, não apenas completa: “Considero-me também uma sortuda, por tudo o que a vida me proporcionou”.

De acordo com ela, essa sorte se comprovou recentemente, por conta do enriquecedor contato que teve com as mulheres que entrevistou para o livro. Pois Vanessa pôde conhecer de perto histórias incríveis, de mulheres “como qualquer uma de nós: com sonhos, dilemas e temores”. “Mas pessoas que, após muita luta e resiliência, obtiveram ‘alta performance’ em suas jornadas.”

E foi para compartilhar alguns desses aprendizados com você que batemos um papo com ela.

Você conversou com bastante gente. É possível encontrar alguns pontos em comum nas histórias dessas mulheres?

Sem dúvida. Conforme ia entrevistando, fui percebendo o quão diferentes eram os perfis de cada uma delas. No entanto, percebi também que, para que elas atingissem a alta performance, foram necessários alguns “ingredientes” comuns. São características que no final saltam aos olhos, como:

1 – Inconformismo: todas as entrevistadas, sem exceção, não se dão nada bem com a zona de conforto. Este é um denominador comum que constatei. Todas têm predisposição para promover a mudança — seja saindo de um emprego de longa data para empreender, seja enxergando além das atribuições estabelecidas dentro de uma empresa. São mulheres que não temem abraçar o novo, mas que o fazem num processo muito consciente. Ou seja, que estão preparadas para tomar o risco calculado.

Esse “enxergar além” tem a ver com aquela famosíssima resposta que Michelangelo deu, ao ser questionado sobre como fizera a monumental escultura de Davi: “Fiquei um bom tempo olhando o mármore, até enxergar Davi. Então, peguei o martelo e o cinzel, e tirei tudo o que não era Davi”.

Ou seja, essas mulheres conseguem olhar o bloco maciço do dia a dia e enxergar, nele, as oportunidades. E não têm medo de arregaçar as mangas para encontrá-las.

Aliás, para mim, todo esse pensamento é bem traduzido por uma frase que Francesca Romana Diana, Empreendedora Endeavor, fundadora da grife de joias que leva seu nome e uma das principais designers de bijuterias e acessórios do país: “Mergulhe fundo, acredite e sempre sonhe grande”. Claro, não é fácil seguir a própria estrela; mas quando ela brilha intensamente, é preciso acreditar que ela vai nos levar até onde queremos chegar.

2 – Coletividade: nas entrevistas, percebi também o quanto elas valorizam o espírito de equipe. As mulheres de alta performance sabem que não chegarão a lugar algum sem o apoio de quem está por perto — família e colaboradores, claro. Todas ressaltam a importância de se trabalhar em equipe, de levar esse espírito de alta performance para o time. Sobretudo para que todos possam compartilhar de um mesmo propósito. Isso é fundamental. Esse compartilhamento, quando acontece de verdade, leva a outro ponto em comum das mulheres com quem conversei: a gratidão.

Todas falaram sobre isso, sobre como elas próprias se sentem gratas pelo que conquistaram — e principalmente pelo que puderam compartilhar dessas conquistas com as pessoas ao redor.

Janete Vaz e Sandra Costa, criadoras do Laboratório Sabin, que o digam. É delas uma frase sobre coletividade e agradecimento que me marcou muito:

“A nossa principal motivação como empreendedoras é a de estarmos rodeada de pessoas felizes e gratas. Esse reconhecimento nos energiza e alegra, além de reforçar a sensação de que estamos no caminho certo”.

3 – Fôlego incansável. Não tem jeito: atingir a alta performance dá trabalho, muito trabalho. Mas as mulheres com quem conversei mostraram um ânimo e uma fibra inabaláveis. Sabem que é necessário doar 100%, às vezes até mais; mas têm resiliência de sobra para encarar os desafios — e principalmente os momentos difíceis, que não são poucos.

É aquela antiga metáfora do bambu: durante a ventania, o bambu enverga, mas não quebra. Quando aplicada a essas grandes mulheres, a frase é mais verdadeira do que nunca. Pois não há somente os desafios de gestão, do empreendimento; há os dilemas pessoais, em relação a cuidar da família, dos filhos.

O desafio é saber usar a própria inteligência para se curvar e não quebrar. Todas as mulheres com quem conversei colocaram palavras como “é um trabalho incansável, um trabalho duro, tem que ser full time, etc”. Mas tem uma frase da Andréa Weichert, sócia da EY, que levarei para sempre: “Não carregue a culpa e não tema os dias de ausência na família. Os filhos darão sinal se você estiver ou não no caminho certo”. Aliás, outra frase da Andréa que tem a ver com aquele primeiro ponto, relativo à fuga da zona de conforto, é: “A sorte só ajuda quem está em movimento”.

4 – Força para enfrentar a dúvida do “mundo”: além desses desafios, as entrevistadas não escaparam aquelas perguntas que todo mundo faz a quem está mudando de carreira: “Será que você vai conseguir? Será que vai dar certo?” É normal no empreendedorismo. O pessoal imagina que a vida já está boa, arriscar para quê? Bem, tem a ver com o primeiro ponto lá em cima: Não é um sonho qualquer que essas mulheres estão perseguindo. É um sonho grande.

Você poderia compartilhar alguma história aqui?

Claro. Quero compartilhar a história de uma intraempreendedora, na verdade: a trajetória linda da Maria Gabriela Prado Manssur. Ela é promotora de Justiça do Estado de São Paulo, e começou a acompanhar de perto as evoluções da Lei Maria da Penha.

Então, ela enxergou uma oportunidade de empreender dentro do seu campo de atuação. Maria Gabriela começou a se relacionar com instituições para levar às mulheres o conhecimento de que elas têm direitos, que não podem sofrer agressões. “Saí do gabinete e fui à luta”, disse a intraempreendedora.

Então, ela criou vários projetos contra a violência doméstica, como o Maria Linda, o Tempo de Despertar (que virou lei), e até uma corrida oficial pelos direitos das mulheres. Com isso, ela obteve até reconhecimento internacional. E resume todo esse trabalho com uma frase que já vem se tornando famosa: “O lugar da mulher é onde ela quiser”.

Qual o grande aprendizado que ficou para você, dessas experiências?

Acho que o amor que elas sentem pelo que fazer. Porque, seja qual for o campo de atuação dessas mulheres de alto impacto, ficou evidente, para mim, que o amor e a paixão que elas nutrem por suas atividades são as principais forças que as impulsionam no dia a dia.

É o amor que faz com que consigam se entregar e superar os desafios não apenas profissionais, mas pessoais que surgem no caminho de uma mulher. E é por tudo isso que serão sempre inspiradoras, exemplos de como é possível termos um mundo mais justo e igualitário.

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