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“A gente quis impactar territórios vulneráveis”

ONG Anjos da Tia Stellinha, que atua no segundo maior morro do Rio de Janeiro, conseguiu doação de mais de 500 mil máscaras, que foram distribuídas em favelas e penitenciárias      A Anjos da Tia Stellinha, uma ONG que atua no Morro dos Macacos, na Vila Isabel, no Rio de Janeiro, foi criada para […]

Publicado em 17 de setembro de 2020

ONG Anjos da Tia Stellinha, que atua no segundo maior morro do Rio de Janeiro, conseguiu doação de mais de 500 mil máscaras, que foram distribuídas em favelas e penitenciárias 

 

 

A Anjos da Tia Stellinha, uma ONG que atua no Morro dos Macacos, na Vila Isabel, no Rio de Janeiro, foi criada para diminuir a desigualdade social por meio do atendimento multidisciplinar a famílias em situação de extrema pobreza. O segundo maior morro do Rio de Janeiro abriga muitas mulheres que sobrevivem com os seus filhos com uma renda per capita de R$ 50,00, por conta da baixa escolaridade e da falta de oportunidades. 

 

 

Há 15 anos Stella Moraes, fundadora da ONG, começou a trabalhar com o social, sendo seis destes anos oficialmente como Associação sem fins lucrativos. Apesar da profissão escolhida, assistente social, Stellinha não gosta do assistencialismo. Por isso, além de doar cestas básicas, ela aplica a metodologia Quadrilátero de apoio, que atua nos eixos da Educação, Assistência Social, Integração Social e Terapia, criada por ela visando emancipação em todas essas frentes. As crianças, por exemplo, participam de passeios culturais, cursos, reforço escolar e piqueniques. As mães também têm acesso a cursos e mentorias para se inserirem no mercado de trabalho ou voltarem aos estudos.

 

 

Antes da pandemia, o trabalho da Anjos da Tia Stellinha era feito por cerca de 34 voluntários, que atendiam 20 famílias lideradas por mulheres e suas 65 crianças. Entre os resultados dessas ações, que somavam antes de março 800 atendimentos por mês, estão o fortalecimento do vínculo familiar e comunitário e a compreensão sobre direitos sociais, também a melhoria dos índices escolares das crianças. 

 

 

“É um processo de travessia”, explicou Stella, “no primeiro ano a gente identifica as demandas daquela mulher e oferece uma mentoria de carreira, porque elas entram sem perspectiva de futuro, então a gente orienta. Nos outros dois anos elas ficam se profissionalizando para gerarem seu auto sustento.”

 

 

Com a pandemia, Stella chegou a fechar por uma semana e ficou perdida sobre o que iria fazer da vida. No entanto, com centenas de pedidos de cestas básicas chegando, ela voltou a trabalhar para ajudar mulheres que faziam o dinheiro do dia, ou seja, se ficasse sem trabalhar, geralmente com faxinas, isso já impactaria na alimentação delas e dos seus filhos. 

 

 

“Se ela não tem faxina, ela não tem comida. Em uma semana já tinha um desastre instaurado”, contou Stella. Por 17 semanas, a campanha de arrecadação “Isolamento social sem fome” possibilitou a doação de mais de 100 cestas básicas por semana, além de kits de higiene e limpeza, remédios, 50 cartões de alimentação, água mineral, frutas, legumes e leite para inúmeras famílias. Nesse meio tempo, a Anjos da Tia Stellinha também ganhou editais da Benfeitoria e do Fundo Baobá. Mas ela sentiu a necessidade de pensar além.

 

 

Durante cinco das 17 semanas, ela fez uma pesquisa social e traçou um perfil que expôs que muitas mulheres estavam em situação de extrema pobreza, tinham o fundamental incompleto e não sabiam como voltar a estudar, tampouco tinham conhecimento dos seus direitos, mas sabiam que essa defasagem impactavam em suas rendas; residiam em uma casa com seis ou mais pessoas e tinham, em média, três filhos. 

 

 

“Eu sabia que elas não tinham resiliência econômica, ou seja, elas iam se endividar e, com uma rede de apoio tão pobre quanto elas, eu sabia que aquilo seria um desastre econômico muito maior do que estavam falando. Por isso eu falei ‘cara, tem que fazer alguma coisa e tem que fazer agora!’”, explicou.

 

 

Com os dados em mãos, ela escreveu o projeto “Mãe muito mais”, para impacto pós pandemia, trabalhando a metodologia da ONG, Quadrilátero de apoio, no ambiente virtual. Com parceria com a Secretaria da Mulher, o CRAS, o CREAS da região, de psicólogos, assistentes sociais e técnicos da ONG, ela colocou no ar o curso de quatro meses para 400 mulheres, que durante esse tempo receberam mensalmente um cartão de alimentação com o valor de R$ 100,00, enviados pela Gerando Falcões, como forma de incentivo. 

 

 

Terapia, auto aceitação, empreendedorismo, com a metodologia do Ela Pode, direitos da mulher e retorno aos estudos via políticas públicas foram alguns dos temas abordados. Semanalmente as alunas receberam feedbacks individuais e vão se formar para abrir espaço para uma nova turma, desta vez com 60 mulheres. Mas o acompanhamento continua por cinco meses com a tutela de empresas de gestão de carreiras e mentoria de negócios.

 

 

Como Stella é multiplicadora do programa Ela Pode, também feito pelo Instituto RME, ela ficou sabendo do projeto Heróis Usam Máscaras por meio dessa rede de contato. A distribuição das 507 mil máscaras doadas pelo Instituto RME foi feita por meio de líderes comunitários, que têm mais proximidade com os moradores, em mais de 100 comunidades em todo Rio de Janeiro. 

 

 

“A minha prioridade foi repassar para coletivos que não são formalizados e que têm dificuldades para acessar doações boas e grandes, mas que fazem um trabalho muito bom na comunidade porque, de fato, eles conseguem acessar os lugares mais altos e perigosos da favela. A gente está falando de lideranças comunitárias que têm vínculos com as pessoas, mas que não se formalizam por falta de informação. A minha prioridade foi impactar esses coletivos.”, disse.

 

 

Outra ação de distribuições focou as unidades prisionais do estado. Com os planos de voltar as visitas familiares em outubro, as Secretarias que tratam da questão do cárcere vão precisar doar duas máscaras por visitante: uma para entrar e uma para sair, objetivando a diminuição dos contágios. 

 

 

“A gente quis impactar territórios vulneráveis e o sistema prisional é um lugar que eu não vejo muitas ações. Conseguimos contactar a Secretaria da Administração Penitenciária, de Desenvolvimento Social, de Segurança e da Mulher para fazer a doação de 100 mil máscaras. É uma população esquecida, marginalizada e revitimizada. Eles já estão ali pagando a pena, às vezes foram até presos injustamente, porque na nossa comunidade a gente conhece gente que foi preso só por estar perto de alguém. Vi inúmeras empresas e universidades produzindo álcool em gel, mas não mandavam para as penitenciárias. Eu acho que essa ação foi um diferencial.”, finalizou.

 

 

“O projeto Heróis Usam Máscaras é de fundamental importância para gerar renda para mulheres de todo Brasil. O projeto só foi possível por conta da vontade de várias organizações de fazer a diferença. Elas não mediram esforços para o propósito de promover autonomia financeira das mulheres. Sem dúvida, estamos muito felizes com o resultado e esperamos que mais organizações tenham essa visão que de que causas estão acima de marcas. A união é que realiza transformação social.”, completou Ana Fontes, fundadora do Instituto RME.

 

 

Sobre o Heróis Usam Máscaras

 

 

O projeto Heróis Usam Máscaras foi coordenado pelo Instituto RME e contou com a participação de 67 organizações da Sociedade Civil, que administraram o trabalho de 6.000 costureiras e costureiros, sendo que os homens representam 10%. 

 

 

Um dos objetivos do projeto foi a geração de renda para mulheres em situação de vulnerabilidade social. Costureiras que em outros locais recebiam apenas R$ 0,30 por máscara receberam em média R$ 1,52 por unidade produzida.