8 pontos-chave para entender Captable!
No seu último artigo da coluna Startups na RME, a Anjos do Brasil discute detalhes importantes para a sua startup
Publicado em 3 de abril de 2023
Startups são empresas inovadoras que captam dinheiro em troca de participação acionária, portanto, a estrutura de capitalização da empresa é relevante.
Captable faz parte da sopa de letrinhas cotidiana do investidor e significa a tabela de capitalização da empresa: são as participações distribuídas no capital social da empresa.
Normalmente é um dos principais pontos de atenção quando se negocia o investimento com um fundo ou com um investidor anjo, são avaliados os números e a história que eles contam, alguns exemplos de perguntas que ajudam a entender o Captable de uma startup são: como está distribuída a participação entre os empreendedores, qual percentual o anjo vai ter e quais direitos esse percentual dá acesso.
Trazemos aqui insights que apoiam a tomada de decisões mais inteligentes na hora de empreender, na hora de investir ou na hora de procurar investimento, confira abaixo.
1) Mais nem sempre é melhor: Como ser econômico temos a tendência de maximizar tudo o que temos, mas nem sempre mais participação é melhor, nem para o investidor, nem para o empreendedor. A análise da participação acionaria é um dos pontos que os investidores observam, mas não é o único que influencia no critério de decisão. Questões como time, maturidade e estrutura do deal são fatores importantes para a decisão de investimento. Veja a mentalidade dos investidores em relação a eles:
• Time: Fundamental! Quando a gente fala “time” e não “o empreendedor” é por justamente empresas serem organismos complexos, buscamos complementaridade no time, capacidade de execução, conhecimento de causa, pessoas que estão genuinamente motivadas para fazer o que elas fazem.
• Maturidade: Superimportante! Fazemos investimento num estágio muito específico da vida das empresas, então, existem empresas que não chegaram naquele estágio de maturidade, mas que precisam daquela quantidade de dinheiro ou precisam até de menos dinheiro, mas o produto não tem tração adequada e ainda não encontrou o seu mercado adequado. Maturidade é um tema que permeia muito as decisões de não investir.
• Deal: Uma decisão central para que o investidor não avance é a estrutura do deal, ou seja, a estrutura do investimento. E quando falamos em estrutura de investimento, um dos fatores-chave é a paz societária. O investimento é uma relação de longo prazo em que se tudo ocorrer bem, conviveremos nos próximos 5 anos e se não tivermos um convívio societário adequado, na primeira dificuldade é possível que a empresa sofra por causa dos sócios. Captable é um tema central quando falamos de paz societária, e não são raros os casos de empreendedores que estão na primeira rodada de investimento e já não tem mais quase participação na empresa deles. Existem casos de empreendedores que foram trazendo conselheiros, advisors ou alguém que ajuda em troca de equity e quando você vê, tem muita gente e um Captable poluído, mas quem trabalha efetivamente tem pouca participação. Então, quando você anjo for pensar em fazer um investimento, maximizar sua participação num estágio muito inicial não necessariamente é a decisão mais inteligente. E você empreendedor, o que você mais tem de valioso é a participação, tome cuidado e trate-a com carinho.
2) Startups bem-sucedidas, tem várias rodadas de investimento: Fazemos investimento sabendo que as empresas boas sempre vão precisar de muito mais dinheiro, logo, a rodada de captação atual não é sua última rodada: a rodada anjo é o comecinho da jornada. A decisão societária deve maximizar as chances do seu portfólio conseguir novas rodadas.
3) O que esperar de diluição entre rodadas: O que é justo na hora da diluição? Quanto é muito, quanto é pouco? Essa é uma relação negociável: A decisão de diluição é uma junção de quanto você precisa de dinheiro e até onde esse dinheiro te leva, ou seja, em quanto tempo você gasta esse dinheiro. Geralmente achamos saudável captações para ciclos de 12 a 18 meses. Assumindo que o empreendedor demora em média 6 meses para fechar uma rodada de investimento, ele terá um determinado tempo para trabalhar com esse dinheiro de forma mais tranquila. A diluição é uma junção de quanto você precisa, em quanto tempo você gasta seu dinheiro e qual estado de maturidade você está.
4) Não é só a participação que importa: Participação é só um dos fatores que importam na negociação. Normalmente perguntamos “Quanto de investimento você precisa por quanto da sua empresa?” e essa é uma das primeiras perguntas, mas você tem uma série de decisões que levam a estruturar uma relação de longo prazo quanto é a de um investimento. Como investidor anjo você tem que estar preocupado com o retorno do seu investimento e maximizar seu portfólio, mas você não pode deixar de estar atento a alguns fatores:
• O empreendedor é a estrela do show: Se o empreendedor desiste, é difícil que você como anjo consiga substituir esse cara, principalmente no estágio inicial. Boas ideias não resistem a maus empreendedores, bons empreendedores resistem a más ideias. Na hora de tomar essa decisão, toma cuidado: você está dando a condição do empreendedor trabalhar, mas você tem que criar mecanismos que não os desincentivem nessa jornada, faça seu investimento trabalhar por você.
• Maximize a chance de o empreendedor conseguir novas rodadas de investimento: “Você não precisa de 500k, precisa de 100k. Daqui 6 meses, volte a falar comigo para conseguir mais dinheiro”, ou então “você quer uma participação muito grande numa primeira rodada, para esses 500k dado que você não tem faturamento e só power point ou só MVP e não tem cliente, quero 50% do seu negócio”. Esses são alguns pontos de contrapartida, às vezes é preciso pressionar o empreendedor a captar menos dinheiro do que ele precisa para uma corrida de 18 meses porque exista a chance do investidor olhar para esse Captable e falar “Passo porque eu vou diluir o empreendedor que já tem metade da empresa dele em mais 20%. O empreendedor vai acabar perdendo o controle do negócio antes de ter uma primeira rodada efetiva com investidores”. Essas decisões podem afastar novos investidores e já vimos aqui que o sucesso é uma função da capacidade dessa empresa passar por novas rodadas.
• Mais que a participação, pense na foto total da negociação: Contratos de investimento anjo são contratos mais simples, conforme você avança no ciclo de capital da empresa, você tem mais contato com a sopa de letrinhas. Existem uma série de termos que significam a representação do que você espera que aconteça com o seu dinheiro ao decorrer da vida da sua empresa. Então, algumas coisas que você tem que prestar atenção, além da diluição, são: “que tipo de direito de preferência você tem?”, ou seja, se eu vender a empresa abaixo do Valuation que eu paguei, quem recebe primeiro o dinheiro? “Acho que vale menos e o empreendedor acha que vale mais”, mas ele tem um plano e uma meta que quer atingir com esse dinheiro, às vezes, acontece de criarmos clausulas que falam “se você bater a meta, te entrego um pouco da minha participação”, isso é chamado de learn-out. O contrário às vezes acontece, o empreendedor que é muito agressivo em preço ressalta que só vai captar nesse Valuation por um determinado preço. É comum criarem mecanismos de correção: “se você não bater essas metas, quero aumentar minha participação na hora que você não bater”. É comum em estágios iniciais o fundador ter vesting sobre as ações deles: por mais que ele tenha controle, é comum você ter mecanismos de incentivo: se você sair antes de 2 anos da startup, eu posso levar a maior parte do seu negócio para criar um pool de opções para atrair executivos para te substituir. Levar esses termos em consideração é tão importante quanto só os termos de diluição do captable.
• Divida experiências: investir é muito menos ciência do que arte! Aprendemos com os erros dos outros, é bom ouvir, contar e compartilhar os nossos erros e acertos. Melhore seus investimentos conversando com outros anjos, fundos e participando dos eventos do ecossistema.