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Empreendedorismo periférico: mais protagonismo, menos demagogia

Pesquisas atestam a importância do empreendedorismo social nas periferias, mas, sem investimentos reais, seguimos à margem

Publicado em 22 de agosto de 2022

Mais que uma estratégia de sobrevivência, o empreendedorismo social é um espaço de resistência. Neste lugar nos reinventamos, construímos novas formas de conexão com os meios de trabalho, fortalecemos nossas habilidades e nos protegemos de uma sociedade que só quer nos entregar os restos.

Uma pesquisa recente feita pelo Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGVcenn) em parceria com a Fundação Arymax, confirma que o empreendedorismo social realizado nas periferias das grandes cidades do país é majoritariamente composto por mulheres negras (70%), perfil já apontado pelo levantamento feito em 2018 pela Rede de Mulheres Empreendedoras, (RME). Ou seja, o empreendedorismo periférico também é negro e feminino.  E isso  certamente explica a pouca atenção que o segmento recebe da sociedade em geral.

“Nos ecossistemas de negócios sociais, os centros das atenções eram homens brancos heterossexuais. Precisamos brigar para ocupar esses espaços” lembrou Fabiana Ivo, gestora operacional da Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia (ANIP), durante a Live de Aquecimento para o 11° Fórum da RME. 

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Debater sobre o empreendedorismo periférico é urgente e essencial para colocar este movimento no lugar de protagonismo que ele sempre deveria ocupar. “ Vim de um lugar tão importante quanto qualquer outro território. A periferia é potente, se não tivesse essa força  eu não receberia tantas parcerias para realização dos projetos que idealizo”, acrescentou Rejane Soares, fundadora da Zwanga African Fashion, primeira marca de moda afro no  estado do Amapá, região norte do Brasil.

Empreender na periferia não é moda, é uma necessidade histórica que precisa ser reconhecida em todo seu potencial de consumo e geração de renda. É neste lugar que uma massa de trabalhadores se sustenta e se reinventa – muito antes da crise sanitária e econômica provocada pela pandemia do Novo Coronavírus -. 

E apesar disso, mesmo após um período, onde a maior parte dos empreendedores periféricos tiveram seus negócios encerrados por falta de estrutura financeira e politicas públicas, os investimentos não chegam nas quebradas. 

A pesquisa do FGVcenn mostra que as mulheres negras, que compõem o maior contingente do empreendedorismo realizado nas periferias das grandes cidades do país, recebe em média  até R$ 2.090 por mês, seis vezes menos que os empreendedores sociais que vivem fora da periferia – homens brancos, em sua maioria com renda em torno de R$ 12.450 mensais -.
O capital inicial para o empreendedor periférico chega a ser 37 vezes menor. Acessamos, com sorte, R$ 20 mil para sustentar nossos negócios, os empreendedores não periféricos têm acesso a recursos que passam de meio milhão de reais (R$ 712 mil, em média). 

Enquanto essa disparidade se mantiver, o empreendedorismo social e periférico, onde o Brasil de verdade acontece, não poderá expressar todo o seu potencial e nem colaborar com a geração de renda que pode mudar o cenário econômico atual.

ARTIGO ESCRITO POR

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Jornalista, Educadora Financeira, mãe do Pedro e da Ayana, Fundadora do G&P Finanças para Mulheres Negras e moradora do Campo Limpo, periferia da zona sul de São Paulo

Mônica Costa