“A gente fez bastante e nos viramos do jeito que pôde”
Costureira conta como produzir máscaras no projeto Heróis Usam Máscaras ajudou na sobrevivência da família durante pandemia Raiane Cristina da Silva Santos, 27 anos, casada e mãe de três filhos, foi uma das mulheres que trabalhou costurando para o projeto Heróis Usam Máscaras, coordenado pelo Instituto RME e com patrocínio dos bancos Bradesco, […]
Publicado em 15 de setembro de 2020
Costureira conta como produzir máscaras no projeto Heróis Usam Máscaras ajudou na sobrevivência da família durante pandemia
Raiane Cristina da Silva Santos, 27 anos, casada e mãe de três filhos, foi uma das mulheres que trabalhou costurando para o projeto Heróis Usam Máscaras, coordenado pelo Instituto RME e com patrocínio dos bancos Bradesco, Itaú e Santander. Ela saiu do mercado de trabalho durante sua última gravidez, que foi de alto risco, e após o nascimento da criança, que apresentou APLV, ou seja, alergia à proteína do leite de vaca, ela precisou continuar em casa para cuidar da alimentação específica do pequeno.
Seu esposo tem uma oficina mecânica, o que sustentava a família com tranquilidade antes de março, e permitia ainda que Raiane comprasse o leite especial do filho intolerante a lactose. A prefeitura doa uma quantia do suplemento que custa R$ 260,00 a lata, mas ainda assim ela precisa tirar dinheiro do bolso para completar a dieta.
Quando a pandemia começou a atingir a saúde dos brasileiros, em março, a situação ficou muito ruim para a família de Raiane. Ela classifica o mês como desesperador. “Ficamos uns 40 dias sem entrar nenhum carro na oficina. A gente tinha o aluguel da casa e da oficina para pagar, as crianças para alimentar, inclusive o meu filho precisando do leite que, na época, uma lata durava um dia e meio. Em março eu fui para o sítio da minha avó porque eu achei que a gente ia passar fome. Fui para o sítio para poupar as coisas”, disse.
Quando Raiane voltou do sítio, foi justo quando o governo anunciou que as pessoas deveriam usar máscaras com maior frequência. Por isso, ela começou a costurar e vender máscaras na rua. Um dia, ela ajudou a cunhada de sua irmã a conseguir tecido e ela, para retribuir, perguntou se Raiane tinha interesse em se cadastrar em uma ONG para receber oportunidades de emprego. Ela aceitou a proposta e pouco tempo depois Lúcia, fundadora do Instituto Hera Artemisul, uma das instituições produtoras do Heróis Usam Máscaras, começou a enviar demandas de costura para ela.
Logo a notícia se espalhou e, além da Raiane, outras nove mulheres passaram a produzir máscaras de suas casas em Itaim Paulista, Zona Leste de São Paulo, sendo quatro mulheres da sua própria família. “Gente passando pela mesma situação que eu. Aqui em casa somos quatro mulheres e tenho duas irmãs que tiveram gêmeos. A gente fez bastante e nos viramos do jeito que pôde.”, disse.
O dinheiro que entrava fez diferença na família da jovem. “Mudou bastante coisa, porque eu consegui colocar a comida das crianças dentro de casa, pagar meus aluguéis e distrair a cabeça, porque eu já estava para ficar louca!”, detalhou Raiane. De acordo com ela, se o projeto não tivesse entrado em sua vida, ela teria voltado para o sítio da avó.
Com o término do projeto, ela se diz perdida. “Tem hora que eu penso que eu vou pegar o dinheiro que falta receber e investir, só que está voltando a acumular as contas e também tem o leite do meu filho que já está no final.”, finalizou.
“O projeto Heróis Usam Máscaras é de fundamental importância para gerar renda para mulheres de todo Brasil. O projeto só foi possível por conta da vontade de várias organizações de fazer a diferença. Elas não mediram esforços para o propósito de promover autonomia financeira das mulheres. Sem dúvida, estamos muito felizes com o resultado e esperamos que mais organizações tenham essa visão que de que causas estão acima de marcas. A união é que realiza transformação social.”, completou Ana Fontes, fundadora do Instituto RME.
Sobre o Heróis Usam Máscaras
O projeto Heróis Usam Máscaras foi coordenado pelo Instituto RME e contou com a participação de 67 organizações da Sociedade Civil, que administraram o trabalho de 6.000 costureiras e costureiros, sendo que os homens representam 10%.
Um dos objetivos do projeto foi a geração de renda para mulheres em situação de vulnerabilidade social. Costureiras que em outros locais recebiam apenas R$ 0,30 por máscara receberam em média R$ 1,52 por unidade produzida.