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5 atitudes para despertar o líder criativo que existe em você (e criar o futuro!)

E também uma paulada nessa tal de criatividade! (ou melhor: no que as pessoas chamam de criatividade.)   Desde sempre, somos forçados a acreditar que a criatividade é um talento meio raro, reservado a algumas raras pessoas que se escondem em salas coloridas, com canetas coloridas, sentadas em puffs coloridos, escrevendo ideias coloridas em post-its […]

Publicado em 22 de agosto de 2019

E também uma paulada nessa tal de criatividade! (ou melhor: no que as pessoas chamam de criatividade.)

 

Desde sempre, somos forçados a acreditar que a criatividade é um talento meio raro, reservado a algumas raras pessoas que se escondem em salas coloridas, com canetas coloridas, sentadas em puffs coloridos, escrevendo ideias coloridas em post-its coloridos. Essa imagem, mesmo que talvez exista em alguns raros momentos da vida de algumas pessoas, está longe de ser a realidade da maioria dos profissionais que consideramos “criativos”. 

 

Se você quiser despertar toda a criatividade que já existe em você, o primeiro mito que precisamos desconstruir é o próprio mito do profissional criativo. Parece que essa tal criatividade só existe no segredo das agências, nas reuniões do pessoal do marketing que ninguém nunca tem acesso, ou em empresas como a Disney, em que a criatividade em si mesma acaba sendo o produto final. Temos a ilusão de que enquanto vivemos entre baias de trabalho cinza e tediosos aquários de vidro, os seres criativos habitam um mundo sem barreiras, em arrojadas arquiteturas pensadas para alimentar suas brilhantes mentes criativas. 

 

A verdade não poderia ser mais diferente. A verdade é a seguinte: criatividade é poder, e nem todo mundo quer que você seja poderoso. Então, desde as terríveis avaliações de “certo e errado” que aprendemos nas escolas, até a lenda das tais salas coloridas, tudo é pensado para você acreditar que ser criativo é tão inacessível quanto raro, e que você precisaria de algum tipo de ambiente especial ou de ferramentas descoladas para acessar esse espaço mental tão desejado e precioso chamado de criatividade.

 

Se um dia você visitar a sede da Disney, na Califórnia, vai ficar chocado com a quantidade de salas cinza e de pessoas “normais” circulando pelos corredores de carpete azul. Vai ficar chocado também se visitar os espaços das empresas mais criativas do Vale do Silício. Tudo será mais familiar do que você pode pensar. A criatividade é algo muito mais normal e acessível do que somos levados a acreditar o tempo todo. É algo que existe em cada um de nós, em cada Homo sapiens sem exceção, mas que a vida vai destruindo e constrangendo aos poucos, até você acreditar que a criatividade é um dom colorido e maravilhoso, mas que poucas pessoas tiveram a sorte de nascer com ele. 

 

Em seu ótimo livro “Criatividade S.A.”, Ed Catmull, ex-presidente da Pixar, fala que o mais importante para acessarmos nossa mente criativa é superar os obstáculos invisíveis que bloqueiam a forma como pensamos. Para ele, a noção de que as ideias já nascem completas e inquestionáveis é tão equivocada quanto acreditar que Arquimedes, durante seu famoso banho há mais de 2 mil anos, gritou “Eureka!” quando uma ideia nova e revolucionária teria surgido pronta em sua cabeça, como se fosse por um passe de mágica. A verdade é que ele já tinha o absolutamente mais importante: uma pergunta, um desafio a ser resolvido. Como poderia calcular o volume em ouro da coroa do rei Hierão sem ter de derretê-la? Se não fosse por essa pergunta a assombrar-lhe as ideias e sem todo o pensamento que antecedeu o famoso banho, Arquimedes provavelmente jamais teria notado que o volume de água que deslocara ao entrar em sua banheira era exatamente igual ao volume de seu corpo. Logo, concluiu criativamente nosso matemático grego, bastaria mergulhar o bem tão precioso em um tanque com água para descobrir qual era seu volume em ouro. E, assim, a criatividade salvou o pescoço de Arquimedes e a coroa do rei Hierão.

 

O maior obstáculo invisível ao pensamento criativo é justamente acreditarmos que as ideias mais inovadoras e revolucionárias já nasceram prontas e perfeitas, de pessoas com mentes especiais e muito diferentes das nossas. Pessoas que acordaram no meio de uma noite qualquer com uma ideia totalmente nova e relevante… e que os fez ricos e famosos. Balela! Somos todos muito mais parecidos do que imaginamos e a única coisa que realmente nos diferencia são as escolhas que fazemos – a escolha de ser criativo.

 

O processo criativo é longo e pode ser difícil. É metódico, exige esforço, muito trabalho e retrabalho, frustrações e um bocado de capacidade de persuasão. O “xis” da questão é que as melhores ideias normalmente parecem óbvias quando executadas, são tão sedutoras e necessárias depois que ganham existência, que não conseguimos imaginar como nunca foram pensadas antes. Parece que já nasceram prontas como uma boa história… Não! As boas histórias também não nascem prontas! Elas exigem suor, muito esforço dos neurônios e suas sinapses. Vale a pena ler o livro “Criatividade S.A.”, que mencionei acima, para compreender a magnitude do processo de criação dos deliciosos filmes da Pixar. Uma aula de criatividade com os melhores no assunto!

 

Apesar de não ser fácil, ser criativo também não é um dom divino e inalcançável. É um talento que todos nós podemos despertar. O primeiro passo é entender que a maior parte do que chamamos de criatividade não está relacionada a criar filmes de animação, compor músicas sublimes, ter a ideia do slogan perfeito, ou criar o pacote da desejada última bolacha. Criatividade é o poder extraordinário de solucionar os problemas do dia-a-dia de um jeito que ninguém pensou antes, desatar os nós dos processos que podem melhorar o desempenho de toda uma organização, encontrar a forma mais clara de se comunicar com sua equipe, criar novos desejos e necessidades. Criatividade é conseguir fazer o que parece impossível com os recursos mais escassos. Costumo dizer que, quase sempre, quanto mais criativa for sua ideia, provavelmente menos ela vai custar. A criatividade cria novos recursos onde antes eles não existiam e isso se chama inovação!

 

Em sua vida profissional, você precisa ter consciência de onde e como você vai empregar essa sua habilidade tão poderosa. O uso inteligente da criatividade certamente é o talento que vai determinar o sucesso ou fracasso de sua carreira. Pense em um executivo de sucesso que não tenha usado de muita criatividade para chegar onde chegou. E, lembre-se, criatividade nem sempre é algo bonitinho, que admiramos, que se parece com o Buzz Lightyear. O piores vilões são normalmente também os mais criativos – quem não se assusta com o plano milimetricamente pensado e executado com precisão para matar Mufasa e culpar Simba em O Rei Leão? Sem dúvidas, o prêmio de criatividade diabólica iria para o frio e calculista Scar! Tenha certeza de que descobrir o que realmente desejamos deve ser a tarefa mais difícil em sua jornada para se tornar alguém mais criativo. 

 

Uma vez compreendido qual é seu propósito individual – o seu porquê mais íntimo e às vezes inconfessável -, seu poder criativo será o motor que vai acelerar sua vida rumo a seus objetivos mais ousados. Mas como liberar esse poder tão extraordinário? Preste atenção nessas 5 atitudes aparentemente simples, mas que podem realmente transformar o lugar que você ocupa no mundo:

 

1. Reconheça que a maioria das pessoas não quer que você seja criativo.

 

Criatividade é poder, e poder não é um recurso ilimitado. Quando uma ideia vence, é possível que outras não tenham o mesmo sucesso. Portanto, comece a perceber toda a estrutura que existe para que você seja mais uma pessoa igual a todas as outras, apenas executando as ideias criativas de quem tem coragem de lutar pelo que acredita. Se todos os seres humanos fossem super criativos e não existisse ninguém para seguir suas ideias, o mundo seria uma bagunça e não sairíamos do lugar. Para usar uma expressão de Jeff Bezos, fundador da Amazon, você pode ser um leão ou uma gazela. A maioria das pessoas escolheser uma gazela!

 

2. Aceite que a criatividade é um processo solitário.

 

Você já viu dois cérebros conectados, criando ao mesmo tempo? Não! Porque isso, pelo menos por enquanto, ainda não é possível. A criatividade é um processo solitário, que acontece nas profundezas da sua mente, conectando ideias, lembranças e informações que você vai colecionando ao longo da vida. A sua ideia surge em você, em você sozinho. 

 

Suas ideias nascem no mundo apenas pelas histórias que você conta. A partir daí, é possível que as pessoas se conectem com essas ideias, colaborem, questionem, façam com que elas cresçam e se tornem realidade, inovações que geram valor. E, lembre-se: a inovação é um processo coletivo, de trocas e colaboração, a criatividade, não é. É muito importante ter a consciência da solidão do processo criativo, da insegurança compreensível que nos assola quando temos de expor algo que naquele momento existe só em um lugar muito íntimo de nossas mentes.

 

3. Aprenda. Observe. Pense.

 

A criatividade não acontece no vácuo de uma mente vazia. Ela precisa de insumos, recursos preciosos para processar e criar algo novo a partir do que já existe. Tudo aquilo que aprendemos e nossa observação atenta do mundo são os combustíveis indispensáveis para uma mente criativa. Não adianta acreditar que você vai reinventar a roda, porque provavelmente você não vai. Mas se você conhecesse a roda e tivesse observado a necessidade de alguém que precisava de rodas nos pés, talvez você tivesse inventado os patins! 

 

A curiosidade é um prerrequisito absolutamente fundamental da criatividade. Pessoas curiosas normalmente são criativas. O inverso, é quase invariavelmente verdade. Há 20 anos, recebi um dos conselhos mais importantes de minha vida: aprenda algo novo todos os dias. Não importa o assunto, não importa a complexidade, mas aprenda algo novo em cada dia de sua vida. Um dia sem aprender, é um dia inútil. Tento seguir à risca esse conselho e ele é responsável pelas melhores coisas que já me aconteceram. 

 

O hard drive do seu cérebro tem capacidade infinita de armazenamento e quanto mais dados você coloca nessa máquina tão extraordinária, mais poderosa ela fica, mais conexões vão sendo criadas e, além de mais sabido, você se torna cada vez mais inteligente e criativo. E… pare para pensar! Já percebeu quantas vezes você usou essa expressão, mas que raramente faz isso de verdade? Quantas vezes você já parou no seu canto, sem distrações, sem música, sem celular, sem nenhum objetivo específico, e parou pra pensar? Raro, não é? Pois então, crie esse hábito tão simples quanto poderoso. Reserve alguns poucos minutos de seu dia, de 5 a 10 minutos no máximo, marcados no timer do seu celular, para parar e pensar. Deixe seu cérebro ir para onde ele quiser, coloque foco nos seus pensamentos, não deixe eles escaparem, pergunte “por quê”, pergunte “por quê” do “por quê”, tome consciência do que acontece em sua mente. Dê nome ao que você está sentindo, elabore suas ideias racionalmente. E, quando der o tempo que você estipulou, levante-se e siga sua vida. 

 

Aprender, observar e pensar: você não imagina o poder dessas três coisas tão facilmente acessíveis a todos nós. Você não imagina o quão mais inteligente e criativo você pode se tornar. E isso não é auto-ajuda barata. É auto-ajuda de graça mesmo! 

 

4. O grande segredo é encontrar a pergunta certa, o desafio relevante!

 

Acho que já concordamos que as ideias não nascem prontas, no vácuo de uma mente vazia. Mas então, de onde vêm as ideias? Quase sempre as melhores ideias nascem de boas perguntas. O mais importante de tudo é achar a pergunta! Se ninguém tivesse se perguntado “como colocar rodas nos pés?”, provavelmente os patins nunca teriam existido. Se Walt Disney não tivesse se desafiado a criar uma solução para o problema de “onde famílias podem se divertir juntas?”, a Disneylândia, um dos negócios criativos mais rentáveis do mundo jamais teria existido. 

 

O primeiro passo é pensar. Pensar sobre tudo aquilo que você conhece e observa. Pensar com uma mente abundante de conhecimento, histórias, observações. O seu pensamento te levará a muitos lugares não desbravados, cheios de perguntas a serem respondidas, desafios a serem superados. Você precisa acreditar que uma de suas inquietações é relevante para as demais pessoas. Isso nunca vem sem esforço mental, nem das conclusões das mais modernas pesquisas. É algo dentro de você que diz que seu desafio é relevante e merece ser enfrentado, uma pergunta de sua mente inquieta cuja resposta poderá ser útil ao mundo. Isso é o insight. Insight quer dizer quase que literalmente “visão para dentro” (in, para dentro; sight, visão). É aquele momento em que você tem uma certeza interior de que algo é importante, de que você descobriu um caminho. 

 

Esse é o passo mais importante de todo o processo criativo: o tal do insight que vai revelar uma jornada para sua cabeça começar a sonhar. Ter as ideias mais ordinárias e mais extraordinárias, inventar moda, reinventar a roda, buscar as peças que faltam no quebra-cabeças que você mesmo descobriu, ficar obcecado em encontrar uma solução para o desafio que te instiga e te inspira. Só quando você tiver uma pergunta martelando sem parar em sua mente curiosa, você terá a chance de gritar “Eureka!” no meio do trânsito e começar agir ousadamente para fazer sua ideia se tornar realidade. Isso é criatividade! 

 

E tem mais um detalhe: quase sempre o “dono” da pergunta acaba se tornando o “dono” da ideia. Mas da mesma forma que ficamos animados e “criativos” quando encontramos nossas perguntas, é também fascinante sonhar com os insights que os outros dividem conosco. Ouvir aquele desafio que na hora parece fazer todo sentido, que você tem a certeza de que também estava escondido em algum beco mal iluminado de sua mente. Conectar-se com os insights inteligentes de outras pessoas também têm o poder de liberar todo o manancial de criatividade que existe em cada um de nós. É assim que essa nossa espécie tão curiosa faz para criar tudo que existe ao nosso redor neste mundo extraordinário em que vivemos: colaboramos para responder as perguntas e desafios das mentes inquietas.

 

5. Criatividade não existe sem histórias. E histórias não existem sem criatividade. 

 

No mundo, há muito espaço para más ideias, mas nenhum espaço para más histórias. Steve Jobs repetia sempre essa frase.

 

Sem uma boa história para dar vida a suas ideias, elas serão para sempre isso, apenas ideias em sua mente. Uma ideia precisa de uma história para nascer no mundo e se conectar com as outras pessoas. Storytelling é isso: transformar as ideias de sua mente em narrativas relevantes para o mundo. Uma ideia genial, revolucionária, não terá qualquer chance de sucesso sem uma boa história para dar-lhe vida. Ela provavelmente morrerá com você, ou você assistirá a uma outra pessoa, que respondeu à mesma pergunta que você, tendo todo o sucesso que você não teve porque não soube “retirar” a ideia de sua mente. Já uma ideia medíocre, só minimamente boa, pode ter chances imensas de sucesso se ganhar uma boa história para nascer no mundo. Quantas vezes você já não se viu convencido de algo – de um produto, serviço, ou mesmo de pessoas – que quando conheceu mais a fundo viu que não valia sequer uma “nota de trinta”. Você já foi persuadido de más ideias por boas histórias muitas vezes em sua vida. 

 

Se você deseja liberar seu poder criativo, você precisa aprender a contar as histórias de suas ideias, precisa conhecer uma das invenções mais fantásticas da humanidade que é o storytelling. Comunicar bem uma ideia é tão importante quanto ter uma ideia, só assim as demais pessoas podem conhecer o que você pensou, contribuir para melhorar as soluções engendradas em seu cérebro, colaborar para tornar sua ideia realidade, e, obviamente, comprar suas ideias! Comprar você como alguém criativamente relevante. 

 

Por falar em relevância, um último pensamento. No mundo de hoje, poucas demandas já existem prontas para serem atendidas pelo brilho de sua mente criativa. A maioria das pessoas já tem tudo que realmente precisa para viver uma vida suficientemente plena. Isso é verdade dentro e fora das organizações. Certamente você precisará criar a demanda pelo produto de sua criatividade. Terá de ser hábil para fazer com que as pessoas valorizem as mesmas perguntas e desafios que foram a fagulha de seu processo criativo e, portanto, desejem consumir suas ideias. E só há uma forma de fazer isso: com histórias. Só as histórias são capazes de criar desejo onde ele ainda não existia, só elas conseguem fazer com que as pessoas passem a valorizar e acreditar em ideias que antes eram totalmente inexistentes ou desconhecidas. Ninguém desejava um iPhone me 2006 (ou todos seus muitos “primos” que apareceram desde então). Hoje esses aparelhinhos onipresentes são mais que um desejo consumista, são uma necessidade indispensável na vida da imensa maior parte das pessoas.

 

Vale a pena dar uma olhada na apresentação que Steve Jobs fez em 2007 para introduzir o iPhone ao mundo. Tem no YouTube. Para mim, é provavelmente a melhor apresentação corporativa do nosso tempo e uma das melhores aulas de storytelling para inovação que você pode ter. A narrativa é tão poderosa, os desafios que você ainda nem conhecia se tornam tão urgentes, que antes mesmo de você saber como seria o telefone da Apple, você já quer muito ter um. Jobs utilizou as histórias para criar desejo onde ele ainda não existia, uma necessidade tão necessária, mas que as pessoas ainda não tinham. 

 

Se você quer ser um profissional criativo, precisa aprender a contar histórias. E sabe o que é o profissional criativo? É o tal do líder! Só pra brincar um pouco de etimologia: To lead, liderar, do inglês, quer dizer “estar à frente”. Só é possível estar à frente de um grupo de pessoas se criarmos o futuro desse grupo, não é? Liderar é criar o futuro!

 

Leandro Waldvogel (cé autor, palestrante, coaching de alta performance e consultor de empresas. Foi diplomata, trabalhou para a Disney Co., professor de programas de MBA no Brasil e exterior. É especialista em storytelling aplicado ao mundo corporativo.